As negociações entre as delegações russa e ucraniana, com vista para um cessar-fogo na Ucrânia, foram suspensas esta terça-feira e serão retomadas já amanhã, à semelhança do que aconteceu no dia anterior. Segundo Mykhailo Podolyak, conselheiro de Volodymyr Zelensky e membro da delegação ucraniana, trata-se de um “processo de negociação muito difícil”, mas acredita que “existe espaço para concessões”.
“Continuaremos amanhã. É um processo de negociação muito difícil e viscoso. Existem contradições fundamentais. Mas certamente existe espaço para concessões. Durante o intervalo, o trabalho em subgrupos será continuado”, afirmou o conselheiro do presidente ucraniano na rede social Twitter.
We'll continue tomorrow. A very difficult and viscous negotiation process. There are fundamental contradictions. But there is certainly room for compromise. During the break, work in subgroups will be continued...
— Михайло Подоляк (@Podolyak_M) March 15, 2022
Recorde-se que esta foi a 5.ª ronda de negociações entre Kyiv e Moscovo. Ontem, as mesmas foram suspensas devido à necessidade de “clarificar definições individuais”.
A Ucrânia tem exigido um cessar-fogo imediato e a retirada das tropas russas do seu território.
Em Moscovo, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, reiterou hoje que o objetivo das atuais negociações é assegurar o estatuto neutro da Ucrânia, segundo a agência noticiosa russa Sputnik.
"As negociações em curso [destinam-se a] assegurar o estatuto militar neutro da Ucrânia no contexto das garantias de segurança para todos os participantes neste processo, no contexto da desmilitarização da Ucrânia, para que nenhuma ameaça à Rússia venha do seu território", disse Lavrov, citado pela agência espanhola EFE.
Trata-se também de "pôr fim à política de nazificação do país [Ucrânia], que está consagrada numa série de atos legislativos", disse Lavrov aos jornalistas após uma reunião com o seu homólogo iraniano, Husein Amir-Adollahian.
O porta-voz do Kremlin (Presidência russa), Dmitri Peskov, recusou hoje fazer qualquer previsão sobre as negociações com a Ucrânia, depois de o conselheiro presidencial ucraniano Oleksiy Arestovich ter admitido a possibilidade de um acordo de paz até maio.
"O trabalho entre as duas delegações [russa e ucraniana] continua por videoconferência, é um trabalho complexo, e o facto de continuar já é positivo", disse Peskov, citado pela agência francesa AFP.
O porta-voz do Kremlin disse ser preferível "esperar por resultados tangíveis" antes de se "informar a população de ambos os países".
Peskov comentava declarações de Oleksiy Arestovich sobre a possibilidade de a guerra na Ucrânia terminar em maio ou até antes.
"Um acordo de paz poderá ser alcançado no início de maio. Talvez muito mais cedo, veremos", disse Arestovich, que não participa nas negociações, num vídeo divulgado por vários 'media' ucranianos, citado pela EFE.
A primeira ronda de negociações realizou-se na região bielorrussa de Gomel, perto da fronteira ucraniana, em 28 de fevereiro, quatro dias após o início da invasão da Ucrânia pela Rússia.
As rondas seguintes decorreram também na Bielorrússia, mas perto da fronteira polaca, em 03 e em 07 de março.
Três dias depois, a Turquia acolheu a primeira reunião entre os ministros dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, e da Rússia, Serguei Lavrov.
As negociações produziram poucos resultados, pelo que foi anunciado pelas duas partes, embora tivessem permitido a abertura de corredores humanitários para socorrer civis em algumas cidades ucranianas cercadas pelas forças russas.
A guerra na Ucrânia provocou milhares de mortos e feridos, mas o número preciso está ainda por determinar.
A ONU contabilizou 636 civis mortos e 1.125 feridos até domingo, mas tem alertado insistentemente que o número deverá ser substancialmente superior.
Mais de três milhões de pessoas fugiram da Ucrânia para países vizinhos desde o início da guerra, naquela que já é considerada a prior crise do género na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-45).
A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que, nos últimos 20 dias, já foram registadas pelo menos 1.834 vítimas civis: 691 mortos e 1.143 feridos.
[Notícia atualizada às 21h35]
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