Israel impediu a Ucrânia de comprar o programa de espionagem Pegasus, com medo de sofrer retaliações da Rússia.
Esta descoberta acontece depois de uma investigação conjunta dos jornais The Guardian e Washington Post, que revela como o relacionamento de Israel com a Rússia por vezes minou as capacidades ofensivas da Ucrânia.
Segundo esta investigação, o NSO Group, uma empresa estatal israelita que detém o programa de espionagem Pegasus, é regulamentado pelo ministério da Defesa de Israel e nunca teve permissão para comercializar ou vender o programa à Ucrânia.
Este programa, quando implantado com sucesso contra um alvo, pode ser usado para invadir qualquer dispositivo móvel, intercetar conversas telefónicas, ler mensagens de texto ou visualizar fotografias de um utilizador. A aplicação pode também ser usada como dispositivo de escuta remota, sendo possível ligar e desligar remotamente um microfone de um telemóvel.
Segundo o jornal The Guardian, na maioria dos casos, o Ministério da Defesa de Israel primeiro concede à NSO permissão para comercializar o programa Pegasus e só depois, após uma validação final, permite ou bloqueia a venda da tecnologia. No caso da Ucrânia, a empresa nunca teve permissão para comercializar ou vender o programa ao país.
Segundo fontes próximas citadas pelo jornal inglês, a decisão de Israel reflete uma relutância em provocar a Rússia, que tem uma estreita relação de inteligência com o país. As mesmas fontes dizem que Israel teme que conceder à Ucrânia a capacidade de atingir telefones russos com o Pegasus seja visto como um ato de agressão contra os serviços secretos russos.
Esta não foi a única vez que um dos principais inimigos da Rússia viu o acesso ao Pegasus negado. Já a Estónia, membro da NATO, adquiriu o acesso ao Pegasus em 2019, mas foi informada pela NSO em agosto desse ano que a empresa não permitiria que as autoridades do país usassem o programa especificamente contra alvos russos.
Neste contexto de falta de apoio do governo de Israel, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky perguntou no último fim de semana ao parlamento israelita: “Porque é que não estamos a receber armas vossas, porque não aplicaram sanções à Rússia e às empresas russas? Precisam de dar respostas e poder viver com essas respostas”, disse no seu discurso.
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