"Foi-nos declarada uma guerra híbrida total, com o objetivo de destruir, quebrar, aniquilar, estrangular a economia russa, e a Rússia no seu todo", afirmou Lavrov durante um encontro com uma fundação diplomática russa.
"Este termo [guerra total], que utilizava a Alemanha hitleriana, é agora pronunciado por muitos políticos europeus quando explicam o que pretendem fazer à Rússia", precisou.
O desempenho central da Rússia na derrota da Alemanha de Hitler em 1945 permanece no centro da identidade nacional russa e do discurso patriótico de Vladimir Putin.
O Presidente russo tinha já utilizado estes termos, numa alusão ao regime nazi, quando denunciou o "blitzkrieg" económico do ocidente ou comparou a suas sanções aos "pogroms anti-semitas".
No decurso da sua intervenção de hoje, Lavrov também observou que as duras sanções ocidentais demonstram claramente "que todos os valores que infundem os colegas ocidentais, a liberdade de expressar as suas opiniões, a economia de mercado, a inviolabilidade da propriedade privada, não valem nada para eles".
"Quando o ocidente necessitou de fazer algo de concreto contra a Rússia, desprezou esses valores", frisou.
No decurso do primeiro mês no que é descrito pela Rússia como uma "operação militar especial" na Ucrânia, com a entrada de milhares de soldados no país vizinho e também com o objetivo de garantir a "desnazificação" do regime de Kiev, o ocidente impôs diversas medidas dirigidas à cadeia logística, à economia e ao sistema financeiro russo, que também abrangem o Presidente Vladimir Putin e diversos oligarcas russos.
No entanto, Lavrov assegurou que a Rússia não está isolada.
"Temos muitos amigos, aliados, parceiros no mundo, um grande número de associações com quem a Rússia trabalha em países de todos os continentes, e vamos continuar a fazê-lo", disse Lavrov.
Assegurou ainda que uma larga maioria de países não se vai juntar à política de sanções ocidentais contra a Rússia.
O chefe da diplomacia russa também condenou a resolução aprovada pela ONU na quarta-feira que condena a designada "operação militar especial" e pede a retirada imediata das tropas russas.
Dos 193 Estados-membros das Nações Unidas, 141 apoiaram o texto e cinco votaram contra, a Rússia, Bielorrússia, Síria, Coreia do Norte e Eritreia.
"Apesar da propaganda justificada com os votos a favor da resolução provocadora aprovada na ONU, a imensa maioria dos países do mundo que não são parte do ocidente (...) não pretendem censurar de forma unilateral uma das partes" em conflito, argumentou, ao assinalar que muitos "são alvo de pressões colossais".
Lavrov apelou à resistência a esta "propaganda" e contrapôs "o estado efetivo das relações económicas e comerciais" entre a Rússia e a comunidade internacional.
"A imensa maioria do mundo não aderiu e não vai aderir a estes jogos de políticas de sanções do ocidente", afirmou, antes de considerar que a maioria da comunidade internacional "pretende o desenvolvimento de uma cooperação internacional em igualdade de direitos" baseada na "igualdade soberana" dos Estados.
"O ocidente viola grosseiramente estes princípios e impõe aos demais a sua superioridade. Temos visto na nossa História, e na História da Europa, tentativas semelhantes de subjugar tudo e todos, e essas tentativas estão condenadas ao fracasso", concluiu.
A Rússia lançou, na madrugada de 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que causou, entre a população civil, mais de 1.000 mortos, incluindo 90 crianças, e mais de 1.500 feridos, dos quais 118 são menores.
O conflito também provocou a fuga de mais 10 milhões de pessoas, entre as quais 3,7 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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