Até agora sentimos muito medo", mas é a "Ucrânia é que nos defende, não os russos", diz à Agência Lusa Oleg Rostoutsev, que não quer discutir política, mas insiste que "a defesa da liberdade está apenas de um lado desta guerra".
Já o rabino mais velho de Dnipro, Alexander Firdkis (74 anos), é mais duro.
"Não sei o que os russos vão fazer se conquistarem Dnipro, se vão fazer como os soviéticos ou como os nazis. Eles são como os dois. No meu coração não tenho medo de ninguém, só de Deus", diz, sentado numa cadeira da maior sinagoga da cidade, localizada num grande edifício que funciona como centro logístico de apoio a carenciados da região de Dnipro.
"Nós estamos focados nas pessoas que precisam da região, porque os preços estão muito caros, as pessoas estão presas em casa e faltam produtos", explicou Oleg Rostoutsev.
"Damos refeições quentes, damos produtos a quem não tem nada, fazemos apoio nas casas de quem não consegue sair", acrescenta Oleg Rostoutsev.
Antes da guerra, a comunidade judaica de Dnipro atingia as 50 mil pessoas mas "muitas mulheres, crianças e idosos já saíram".
"Não é o mesmo que em Mariupol [cidade fortemente bombardeada pela artilharia russa], mas para nós é uma catástrofe humanitária", defende, salientando que o tipo de apoio ultrapassa a religião, destina-se a todos.
"Se é comida kosher ou não, não é importante. Isto não é uma questão de religião, é um problema para todos", explica, salientando que há práticas religiosas, como o culto do sábado, que está suspenso porque "todos os dias precisamos de ajudar".
Apesar disso, nas entregas de comida, a comunidade judaica continua a distribuir o pão ázimo, "não por causa da religião, mas porque dura mais tempo", diz, entre sorrisos, enquanto percorre os corredores do edifício monumental, onde está um museu do Holocausto, um hotel e várias lojas judaicas.
"Vivemos aqui desde antes que a Ucrânia é independente. É um país muito calmo e sossegado" e não queremos sair daqui", acrescenta, sublinhando que é prática a realização de cerimónias ecuménicas, num "ambiente religioso muito saudável".
"Agora é um inferno de bombardeamentos", diz Oleg Rostoutsev, que acredita na resiliência da comunidade judaica. "Os judeus são sobreviventes", diz.
O rabino Alexander Firdkis parece também disposto a resistir e explica porque não quer sair. "Temos 12 rolos de escritos sagrados da Torah com centenas de anos, sobreviveram ao nazismo e ao comunismo. Vou ficar aqui para os defender. Não posso sair da Ucrânia, porque está aqui na igreja um pedaço da dignidade da história dos judeus no país".
E se os russos vierem? "No meu coração não tenho medo de ninguém, só de Deus", reitera Alexander Firdkis.
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