"Nós somos pequenos Estados insulares em desenvolvimento, temos que fazer a nossa voz sentir-se com mais força. Estou a falar dos SIDS africanos, mas também das Caraíbas e Pacífico, porque as nossas especificidades têm que estar no centro das soluções da cooperação para o desenvolvimento", afirmou Ulisses Correia e Silva, de visita à ilha do Sal com o homólogo de São Tomé e Príncipe, Jorge Bom Jesus, que hoje terminou uma deslocação oficial a Cabo Verde.
"Nós não estamos integrados em plataformas continentais, quer dizer que levar em conta projetos que muitas vezes são concebidos para os continentes deixa de fora as ilhas. E nós temos de ter essa capacidade de intervenção, porque aí é que conseguimos criar e influenciar decisões", defendeu ainda o chefe do Governo cabo-verdiano.
Os SIDS são um grupo distinto de 38 Estados-membros das Nações Unidas -- no Caribe, Pacífico e Atlântico, Oceano Índico e Mar da China Meridional -, reconhecido desde 1992 por esta organização por enfrentarem vulnerabilidades sociais, económicas e ambientais únicas.
A população total destes pequenos países insulares é de 65 milhões.
"Está em elaboração um índice multidimensional de vulnerabilidades - e os pequenos Estados insulares têm um nível de vulnerabilidade económica e ambiental muito forte - para que possamos aceder também a recursos do apoio ao desenvolvimento em condições favoráveis e adaptadas às nossas condições", apontou Ulisses Correia e Silva.
No balanço da visita de Jorge Bom Jesus ao arquipélago, iniciada no domingo, o primeiro-ministro de Cabo Verde afirmou que "mais do que intenções", os dois países querem "concretizar ações em diversos domínios", na educação, formação profissional ou cooperação institucional e política, e assim "estreitar" as relações.
"Estamos a falar de países que são mais do que países amigos, são países com laços de sangue, com uma história comum de vários anos", reconheceu Ulisses Correia e Silva, recordando que a comunidade cabo-verdiana em São Tomé e Príncipe já vai na terceira geração.
Cabo Verde vai disponibilizar 200 vagas para formação profissional a São Tomé e Príncipe e aumentar a linha de microcrédito para empreendedorismo, anunciou na segunda-feira o primeiro-ministro cabo-verdiano, lamentando os 15 anos de ausência de reuniões bilaterais.
"Estamos a realizar a segunda comissão mista depois de 15 anos. É preciso ter em conta que é muito tempo, mas vamos recomeçar e recomeçar bem, com o reforço do diálogo político e diplomático, com consultas bilaterais setoriais, com acordos e intenções", disse Ulisses Correia e Silva, numa declaração conjunta, na Praia, com o homólogo são-tomense, Jorge Bom Jesus.
Antes desta declaração, no Palácio do Governo, as delegações ministeriais dos dois países assinaram cinco novos acordos para reforço da cooperação bilateral, em áreas como a educação, turismo, agricultura, economia, formação profissional e comunidades, concluindo assim a segunda reunião da comissão mista.
"O que nós queremos aqui é, de facto, potenciar aquelas áreas em que uns e outros têm maior avanço", afirmou Jorge Bom Jesus, reforçando a importância das relações históricas entre os dois países, mas também as de consanguinidade entre ambos os povos, desde o período colonial, dando como exemplo a ilha do Príncipe, em que "pelo menos" metade da população é de origem cabo-verdiana.
Antecedendo a assinatura dos cinco acordos e de um processo verbal, bem como a declaração conjunta dos dois chefes do Governo, a comissão mista entre Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, presidida pelos respetivos chefes da diplomacia dos dois países, Rui Figueiredo Soares e Edite Costa Ten Jua, reuniu-se pela primeira vez desde 2007, quando foi assinado o Acordo Geral de Cooperação.
"Este momento é, para nós, de história. Sobretudo porque trata-se de uma comissão mista que não realizamos há sensivelmente 15 anos. Portanto, há toda a vontade e todo o interesse no sentido de quebrarmos os paradigmas e inaugurarmos novos tempos, sobretudo depois deste período, deste contexto pandémico, e neste período de pós-pandemia", sublinhou Jorge Bom Jesus.
O primeiro-ministro de Cabo Verde explicou que com base nestes novos acordos, os estudantes são-tomenses terão acesso às universidades cabo-verdianas, mas também vai "aumentar de forma significativa" o número de vagas e bolsas para ensino profissional de jovens de São Tomé e Príncipe. Até 2025, serão 200 vagas para formandos de São Tomé e Príncipe frequentarem cursos de formação profissional em Cabo Verde.
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