Francisco chegou hoje a Malta para uma visita de dois dias, agendada para 2020, mas que teve de ser adiada devido à pandemia, e no seu primeiro discurso às autoridades abordou a questão dos fluxos migratórios no Mediterrâneo num país que foi criticado e condenado por não prestar assistência aos migrantes que atravessam o mar para chegar à Europa.
No Palácio do Grão-Mestre, sede da presidência maltesa, recordou que, segundo a etimologia fenícia, Malta significa "porto seguro", mas que "perante a crescente afluência dos últimos anos, os medos e as inseguranças têm causado desânimo e frustração" no país.
Neste momento, um navio pertencente à Organização Não Governamental (ONG) alemã Sea-Eye com 106 migrantes resgatados a bordo informou que ainda não há resposta das autoridades de Malta para conduzi-los a um porto seguro.
O chefe da Igreja Católica salientou que "o fenómeno migratório não é uma circunstância do momento", por isso exige "respostas amplas e compartilhadas" e que não sejam apenas alguns países a suportar o problema enquanto outros permanecem indiferentes" e deu o exemplo dos refugiados que chegam de Ucrânia devido à guerra após a invasão da Rússia.
O Papa disse ainda "que os países civilizados não podem sancionar por interesse próprio acordos escusos com criminosos que escravizam pessoas" numa alusão aos pactos com a Líbia por parte de países como Malta e Itália e que permitem a devolução dos migrantes.
"O Mediterrâneo precisa da corresponsabilidade europeia, para voltar a ser um cenário de solidariedade e não ser o posto avançado de um trágico naufrágio de civilizações", disse Francisco, que concluirá esta viagem no domingo com uma visita a um centro migrante.
Referiu também a necessidade de reforçar os fundamentos da vida social como "honestidade, justiça, sentido de dever e transparência", num país marcado por corrupção, como a denunciada pela jornalista Daphne Caruana, assassinada em 2017.
Francisco fez um pedido às autoridades de Malta e ao novo governo trabalhista eleito na semana passada: "Que o compromisso de erradicar a ilegalidade e a corrupção seja, portanto, tão forte quanto o vento que, soprando do norte, varre as costas do país" e que "sempre se cultive a legalidade e a transparência, que permitem erradicar a delinquência e a criminalidade".
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