"Depois de Maidan e 2014, mais do que querermos viver na Europa, nós queremos viver como europeus e com valores europeus", afirmou, em entrevista à Lusa, o analista e diretor do site Ostro V, recordando os protestos populares que levaram à queda de um governo pró-russo conhecidos como a 'Revolução da Dignidade' e o ano em que os russos ocuparam a península da Crimeia (sul) e territórios nas províncias de Lugansk e Donetsk (Donbass, a leste), respetivamente.
Sobre o ambiente de radicalização existente no país, Serhiy Harmash considera que este é um resultado do ambiente de guerra permanente com a Rússia desde 2014 e acredita que esse espírito nacionalista vai diminuir em tempo de paz.
Para já, estes discursos mais patrióticos são "bons para nós" porque ajudam a mobilizar as pessoas, explicou. "Será bom para nós. Hoje em dia, temos discursos internos mais nacionalistas como o ´Slava Ukrainii´ [uma frase de guerra que significa Glória à Ucrânia], por exemplo, mas não acho que sejamos mais radicais que outros países que viveram sob ocupação ou estejam em guerra", disse Harmash, admitindo que a "guerra fez da Ucrânia um país "mais radical e mais patriótico".
Mas, "quando houver paz na Ucrânia, não acredito que os radicais tenham sucesso. Não queremos radicais, nós sabemos o mal que faz o radicalismo aqui ao lado", numa referência ao ultranacionalismo russo.
Sobre o trabalho do Presidente ucraniano, o analista faz um balanço positivo. "Zelensky tem algumas questões menos consensuais, mas nesta situação está a ser eficaz e racional. É mais educado e polido que Poroshenko [o seu antecessor] mas, provavelmente Churchill seria melhor que Zelensky".
"Estamos unidos na guerra, mas somos uma democracia e nem todos concordaram sequer com as negociações da Turquia", acrescentou, admitindo que o chefe de Estado ucraniano tem mostrado ser "forte e prático", principalmente nas questões externas.
"Apesar de tudo, penso que temos sorte em termos Zelensky como presidente. Não temos opções: se não ganharmos a Ucrânia como país será destruído".
Serhiy Harmash não acredita que o governo de Kiev aceite cedências territoriais aos russos, incluindo zonas perdidas em 2014. "Quanto à Crimeia não sei, mas Donbass não. Faz parte da identidade nacional, nenhum Presidente vai aceitar isso e continuar no poder", explicou.
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