Hidalgo não convence no último esforço na campanha presidencial em Paris
A candidata às presidenciais francesas Anne Hidalgo pediu hoje que a esquerda não hesite em votar nela no dia 10 de abril, mas quem foi até ao Cirque d'Hiver, em Paris, ficou com a sensação de que este pode ser o último fôlego dos socialistas em França.
© Reuters
Mundo Anne Hidalgo
"Sou militante há muitos anos do Partido Socialista e vim apoiar a candidata mesmo se, infelizmente, esta eleição não lhe parece muito favorável. Na vida há uma juventude e uma velhice, eu sinto que estamos a chegar ao outono de qualquer coisa no Partido Socialista", disse Jean-Pierre, reformado vindo de Argenteuil, nos arredores de Paris, enquanto se instalava para assistir ao último comício de campanha de Anne Hidalgo.
Para este último encontro com os seus apoiantes, a candidata socialista, que é também presidente da Câmara de Paris, escolheu jogar em casa, com um comício no Cirque d'Hiver, uma sala histórica junto à Praça da República. Responderam à chamada cerca de 2.000 apoiantes que encheram o recinto, mas nem todos saíram convencidos.
"Ela é corajosa, eu já votei nela para Paris. Acho que o problema dela é que é demasiado parisiense, está muito ligada à capital e muito conotada com esta burguesia parisiense. Ao contrário de Chirac, ela não passa no resto da França. Para esta eleição, eu ainda estou a hesitar. Em Mélenchon não, mas talvez em Fabien Roussel [candidato comunista] para ser um contrapeso", disse Laurence, que vive no 11º bairro de Paris.
Esta parisiense disse, no entanto, que ficará "desiludida" caso Anne Hidalgo não consiga mais do que 1,5% que preveem as sondagens, o resultado mais baixo de sempre de um socialista na primeira volta das eleições, ficando mesmo abaixo dos 6,35% obtidos em 2017 por Benoît Hamon. E Anne Hidalgo está ciente deste problema.
"Talvez vocês se questionem porquê voltar a uma esquerda que, de qualquer forma, não vai ganhar esta primeira volta? Eu digo-vos com todo o meu coração e razão: porque Emamnuel Macron é de direita. É uma realidade evidente", disparou Anne Hidalgo contra o atual Presidente e candidato no seu discurso desta tarde.
Anne Hidalgo também lançou farpas à extrema-esquerda de Jean-Luc Melénchon, acusando-o de "ter perdido o norte" ao não ter apoiado logo a Ucrânia aquando da invasão russa, e também à extrema-direita, defendendo que nem Marine Le Pen, nem Eric Zémmour representam a França.
Para Paul, que costuma votar na direita moderada, é difícil compreender as razões pelas quais Anne Hidalgo não convenceu o eleitorado francês, mesmo se as suas promessas de campanha, como a manutenção da idade de reforma nos 62 anos, aumento dos salários dos professores e mais ajudas aos estudantes respondem às aspirações da população.
"Ela fez uma boa campanha, mas talvez a sua personalidade não seja interessante neste momento da história da França As suas ideias são corretas, mas a maneira como ela as apresenta acabam por não chegar aos eleitores. Eu ainda hesito em votar por ela, mas acho que vou escolhe-la. O meu voto será para ela ou para Jean-Luc Mélenchon, mas ele tem posições muito radicais", declarou Paul.
Já Jean-Pierre considerou que há muitos anos que os franceses colecionam desilusões nas urnas, sendo difícil acreditar em quem quer que seja.
"Hoje, as pessoas já não acreditam na política. Faço parte há 25 anos das mesas de voto na minha cidade e há 15 anos não tínhamos sequer um minuto para ir à casa de banho ou beber um copo de água no dia das eleições. Hoje, podemos ficar a jogar horas no telemóvel sem aparecer ninguém", contou.
A abstenção na segunda volta é agora a maior ameaça num duelo que se antecipa entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen, mas ao contrário do que aconteceu em 2017, a esquerda pode não estar lá desta vez para fazer barreira à extrema-direita.
"Eu não vou votar para salvar isto. Eles que se desenrasquem. Sei que há muita gente à esquerda que hesita entre votar por Macron caso ele se bata contra Marine Le Pen na segunda volta, mas esta vez tem de ser a direita a votar por Macron. Eu estou farta de ser bombeira deste país", lamentou Laurence.
As eleições presidenciais francesas contam com 12 candidatos e a primeira volta vai decorrer já a 10 de abril, com a segunda volta a acontecer a 24 de abril.
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