Recrutas militares da região de Donbass, controlada pelos separatistas russos, estão a ser enviados para a linha da frente de combate na Ucrânia sem treino, com armas inadequadas e com pouca comida e água, avança a Reuters, que cita seis fontes.
Em declarações à agência de notícias, um estudante, que foi recrutado em fevereiro, recordou que um companheiro de combate lhe disse para se preparar para responder a um ataque de curta distância por parte das forças ucranianas. “Eu nem sei como disparar uma arma automática”, contou.
Além do estudante, também três mulheres, esposas de recrutas, partilharam os seus relatos, tal como um recruta e uma fonte próxima da liderança separatista de Donbass, que tem ajudado a organizar os mantimentos para estes homens, que estão a lutar com os soldados russos, mas que não fazem parte das forças armadas do país.
As fontes indicaram que vários recrutas receberam como arma um Mosin-Nagant, desenvolvido no final do século XIX, e que saiu de produção há várias décadas.
Já o estudante indicou que teve de beber água de um lago sujo devido à falta de água potável, tal como os outros recrutas, que também não tinham acesso a água tratada. “Bebemos água com sapos mortos”, disse.
A Reuters indica que todas as fontes falaram de falta de alimentos e água, com os recrutas a ter de procurar por comida.
Além desta falta de mantimentos, as fontes relatam ainda que alguns recrutas tiveram como missão atrair fogo inimigo para que outras unidades russas pusessem identificar as posições ucranianas e bombardeá-las.
A mulher de um dos recrutas contou que um grupo, com cerca de 135 recrutas, obrigado a ir para a linha da frente de combate perto de Mariupol, se recusou a lutar. Como punição, foram mantidos num porão.
Todos os recrutas identificados pelas fontes não tinham qualquer experiência militar e apenas um teve treino antes de ser enviado para o combate.
A agência de notícias sublinha que estes relatos são mais uma prova de que os recursos militares russos estão sobrecarregados, com problemas logísticos e baixas devido à resistência que as tropas têm encontrado na Ucrânia.
Questionado sobre o tratamento dos recrutas de Donbass, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, remeteu esclarecimentos para a autoproclamada República Popular de Donetsk, que não prestou qualquer declaração à Reuters.
As autoridades separatistas de Donetsk anunciaram, no final de fevereiro, que estavam a recrutar todos os homens em idade de combate, mas os relatos indicam que oficiais de recrutamento militar estavam a aparecer nos locais de trabalho e a pedir aos funcionários que se apresentassem ao serviço. Quem não cumprisse, corria o risco de ser processado.
A invasão russa à Ucrânia, que teve início a 24 de fevereiro, já matou pelo menos 1.417 civis, incluindo 121 crianças, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior. Além disso, a guerra já provocou mais de 10 milhões de deslocados.
Leia Também: "Violação intolerável". Marcelo condena o massacre de Bucha