Rússia quer mostrar "verdadeira natureza" de acontecimentos em Bucha
A Rússia vai apresentar hoje "documentos" mostrando o que afirma ser a "verdadeira natureza" dos acontecimentos na cidade ucraniana de Bucha, onde as forças russas são acusadas de ter massacrado civis, indicou o ministro dos Negócios Estrangeiros.
© Reuters
Mundo Rússia/Ucrânia
"Hoje, por intermédio do nosso representante permanente [nas Nações Unidas], vamos dar uma conferência de imprensa na qual serão apresentados documentos claros sobre a verdadeira natureza dos acontecimentos", declarou o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros russos precisou que essa conferência de imprensa se realizará às 19:30 TMG (20:30 em Lisboa), na sede da ONU, em Nova Iorque.
Antes de Lavrov se pronunciar, já o Kremlin tinha "categoricamente" negado todas as acusações ligadas à descoberta de um grande número de cadáveres de civis em Bucha, perto da capital ucraniana, Kiev, após a retirada das tropas russas da cidade.
Lavrov disse que as imagens de cadáveres espalhados nas ruas, empilhados e em valas comuns eram "falsas", denunciando uma campanha de "propaganda" e de "desinformação".
Por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, instou hoje os Governos "que ainda tenham dúvidas sobre os crimes de guerra russos" a "visitarem Bucha" e advertiu de que as imagens dos massacres ali perpetrados são apenas "a ponta do icebergue" da brutalidade da invasão russa em curso na Ucrânia.
Kuleba referia-se às centenas de cadáveres de civis presumivelmente executados que foram encontrados naquela cidade próxima de Kiev quando o exército russo retirou, numa conferência de imprensa em Varsóvia, com a sua homóloga do Reino Unido, Liz Truss.
A MNE britânica, que na terça-feira se reunirá com o homólogo polaco, anunciou que o seu Governo impulsionará ações legais internacionais contra a Rússia por crimes de guerra e que Londres está "a colaborar estreitamente" com a Ucrânia para tal.
A responsável confirmou que o Reino Unido está a preparar uma ajuda avaliada em mais de 11 milhões de euros aos civis vítimas da guerra.
Na sua intervenção, Kuleba sublinhou que "já não há lugar para meias-tintas" e instou os líderes europeus "que ainda tenham dúvidas" a "visitarem Bucha agora mesmo, verem as valas comuns e depois falarem" com ele.
O MNE ucraniano fez um apelo "à União Europeia, à NATO e ao G7" para que ampliem o alcance das sanções económicas contra Moscovo e forneçam armas ao seu país.
"Quantas mais armas tivermos, mais depressa e melhor poderemos impedir a Rússia de cometer mais crimes", sustentou Kuleba, acrescentando que o seu Governo "expôs esta situação" antes, mas "depois daquilo que se viu em Bucha" é "o momento de garantir que os culpados pagarão pelos seus crimes perante a Justiça Internacional".
O que aconteceu em Bucha "é só a ponta do icebergue", assegurou, observando que "o que está a acontecer em Mariupol é muito pior".
O ministro ucraniano saudou a cooperação existente entre os Governos do seu país, do Reino Unido e da Polónia, classificando os membros deste último como "os amigos mais próximos", como ficou provado "no último mês", e expressou a sua confiança em que possam "fazer muito mais juntos".
A ofensiva militar lançada na madrugada de 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de dez milhões de pessoas, mais de 4,1 milhões das quais para os países vizinhos, de acordo com os mais recentes dados da ONU -- a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 40.º dia, causou um número ainda por determinar de mortos civis e militares e, embora admitindo que "os números reais são consideravelmente mais elevados", a organização confirmou hoje pelo menos 1.430 mortos, incluindo 121 crianças, e 2.097 feridos entre a população civil.
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