A guerra na Ucrânia provocou, até ao passado domingo, a morte de 142 crianças e ferimentos em 229, informou hoje a agência das Nações Unidas para a Infância.
"Voltei na semana passada de uma missão na Ucrânia. Nos meus 31 anos como funcionário humanitário, raramente vi tantos danos causados em tão pouco tempo. (...) Dentro da Ucrânia, crianças, famílias e comunidades estão sob ataque", disse o diretor de Programas de Emergência do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Manuel Fontaine.
Em declarações numa reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a situação humanitária no território ucraniano, o responsável admitiu que os números podem ser muito superiores e revelou que muitas dessas mortes ou ferimentos foram causados por fogo cruzado ou pelo uso de armas explosivas em zonas povoadas.
"Conheci uma dessas crianças numa unidade de cuidados intensivos num hospital em Zaporizhizia", adiantou o responsável.
"Vlad, que tem quatro anos, foi baleado duas vezes no estômago enquanto fugia com sua família", contou Manuel Fontaine. "Embora continue inconsciente, espera-se que Vlad sobreviva, ao contrário de tantos outros."
O diretor de programas de emergência da Unicef acrescenta que o Fundo das Nações Unidas para a Infância estima que cerca de 3,2 milhões de crianças continuem em suas casas em toda a Ucrânia e "quase metade pode estar em risco de não ter comida suficiente".
Fontaine adianta que cerca de 1,4 milhões de pessoas deverão estar sem acesso à água.
"Ataques à infraestrutura do sistema de água e cortes de energia deixaram cerca de 1,4 milhões de pessoas sem acesso à água na Ucrânia. Outras 4,6 milhões de pessoas estão com acesso limitado. A situação é ainda pior em cidades como Mariupol e Kherson, onde as crianças e as suas famílias passaram semanas sem serviços de água canalizada e saneamento, sem fornecimento regular de alimentos e cuidados médicos", acrescentou.
Na sexta-feira, mais de 50 pessoas morreram num ataque com mísseis na estação da cidade oriental de Kramatorsk. Na altura, o Ministério da Defesa russo negou ter como alvo a estação.
Fontaine descreveu o ataque como "particularmente horrível e inconcebível".
Num momento em que todos os sistemas que ajudam as crianças a sobreviver também estão sob ataque, centenas de escolas e instalações educacionais foram atacadas ou usadas para fins militares, lamentou ainda o diretor da Unicef.
A agência da ONU para as crianças informou que o encerramento de escolas em toda a Ucrânia está a afetar a aprendizagem - e o futuro - de 5,7 milhões de crianças em idade escolar e 1,5 milhões de estudantes do ensino superior.
"Na região do Donbass [leste ucraniano], toda uma geração de crianças viu as suas vidas e educação desmoronarem durante os últimos oito anos de conflito", disse Manuel Fontaine, numa referência aos confrontos travados por separatistas pró-russos e forças ucranianas nesta zona desde 2014.
Outro dos problemas que está a deixar a UNICEF sob alerta é a possibilidade de abusos e tráfico de crianças durante o conflito.
"Uma assistente social contou-me uma história sobre pais que foram forçados a enviar os seus filhos com um motorista de um camião apenas para afastá-los da linha de fogo. Essas crianças desacompanhadas correm um risco muito maior de violência, abuso, exploração e tráfico. As mulheres enfrentam riscos semelhantes. Estamos extremamente preocupados com o aumento dos relatos de abusos sexuais, violência e de outras formas de violência de género", declarou.
[Notícia atualizada às 19h03]
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