Numa entrevista ao diário argentino, Francisco explicou que não pode "fazer algo que coloque em risco objetivos mais elevados, que são o fim da guerra, uma trégua ou mesmo um corredor humanitário".
"De que serviria o Papa ir a Kyiv se a guerra continuar no dia seguinte?", questionou o Papa.
Francisco expressa diariamente a sua profunda preocupação com a guerra desencadeada pela invasão russa da Ucrânia e para a qual já propôs uma mediação do Vaticano.
Nas suas mensagens, o Papa nunca menciona o nome do Presidente russo, Vladimir Putin, nem se refere à Rússia por motivos diplomáticos.
"Um papa nunca nomeia um chefe de Estado, muito menos um país, que é superior ao seu chefe de Estado", explicou.
Por outro lado, o Vaticano esteve a trabalhar na preparação de um segundo encontro entre o Papa Francisco e o patriarca ortodoxo Cirilo, que apoiou a invasão russa na Ucrânia.
Francisco encontrou-se com o patriarca ortodoxo russo em 2016, em Havana, sendo esta a primeira vez que os chefes das duas igrejas se reuniram depois do Grande Cisma de 1054.
O Papa argentino sublinhou que o seu relacionamento com Cirilo é "muito bom" e lamentou que "o Vaticano tenha tido de suspender um segundo encontro" com o patriarca, que deveria ocorrer em junho, em Jerusalém, considerada um território neutro como Havana.
"A nossa diplomacia entendeu que um encontro dos dois neste momento poderia causar muita confusão. Sempre promovi o diálogo inter-religioso. Quando era arcebispo de Buenos Aires, reuni cristãos, judeus e muçulmanos num diálogo frutífero, iniciativas das quais mais me orgulho. É a mesma política que promovo no Vaticano", declarou Francisco.
De qualquer forma, o Papa insistiu que está "disposto a fazer qualquer coisa" para parar a guerra, porque considera que este tipo de conflitos são "anacrónicos neste mundo e nesta fase da civilização".
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, mais de cinco milhões das quais para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU -- a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
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