Catherine Tetteh fundou a Melanin Foundation, sediada na Suíça, há três décadas, com o propósito de combater a difusão do uso dos cremes branqueadores de pele, após assistir aos efeitos nefastos desta utilização em familiares.
Apesar de reconhecer que é impossível avançar com rigor o número de pessoas que recorrem a estes cremes -- alguns dos quais com substâncias ilegais, como a hidroquinona, vendidos ilegalmente no centro de Lisboa - a cosmetologista e especialista em saúde pública avança com uma prevalência entre 25 a 75%, dependendo da região do mundo, conforme estimada por algumas publicações científicas.
Em declarações à agência Lusa, por escrito, Tetteh afirmou que este é um problema sobre o qual as autoridades de saúde públicas ocidentais "estão cientes".
"Em alguns países, o serviço aduaneiro organiza apreensões de cremes de aclaramento da pele", disse. Paradoxalmente, acrescentou, "os maiores fabricantes de produtos despigmentantes encontram-se na Europa".
Segundo Catherine Tetteh, é longa a lista de riscos para a saúde que os utilizadores de cremes branqueadores enfrentam: Mutação genética do feto, baixo peso dos recém-nascidos, infeções neonatais, aborto, cancro da pele, cancro do fígado, danos no sistema nervoso central, falha renal, problemas cardíacos e ósseos, cegueira, esgotamento nervoso, diabetes, hipertensão, obesidade, dependência.
Questionada sobre os fins que, para estas utilizadoras, justificam os meios, a presidente da Melanin Foundation referiu que estas mulheres -- embora também existam consumidores masculinos -- "querem mudar a sua própria aparência".
"Elas procuram agradar e refletir uma nova imagem de si próprias e uma representação ideal da beleza que não existe", referiu.
E acrescentou: "A globalização, o poder dos meios de comunicação e da publicidade criam a imagem de um padrão de beleza universal, de uma beleza feminina que foi redefinida de acordo com um modelo ocidental ilusório".
Se, por um lado, a comunicação social e as campanhas de sensibilização podem ajudar a informar melhor as populações sobre os perigos da despigmentação voluntária da pele, a par da educação dos jovens para "uma melhor representação de todos os tons de pele", por outro, e "infelizmente, o avanço das tecnologias estéticas democratizou ainda mais a prática".
"As mulheres já não aplicam apenas cremes, mas recorrem agora a comprimidos, injeções intravenosas e lasers", lamentou.
Ao longo da pesquisa que realiza há décadas para ajudar estas mulheres a deixarem de recorrer a aclaradores da pele, Catherine Tetteh descobriu a extensão do problema e "especialmente o fenómeno da dependência", o qual "torna difícil estas mulheres deixarem de utilizar os produtos".
Do trabalho da organização que criou destaca-se a participação em conferências e 'workshops' nos "cinco continentes", desde 2000.
"Sensibilizamos, informamos e estamos convencidos de que seremos capazes de mudar as coisas, dando um passo de cada vez", referiu.
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