Ucrânia: Número de mortos em Mariupol chega a milhares, diz Bachelet

A alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michele Bachelet, afirmou hoje que o número de mortos civis na cidade ucraniana de Mariupol chega "aos milhares", admitindo estar chocada com as inúmeras violações dos direitos humanos cometidas na cidade.

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© REUTERS/Denis Balibouse

Lusa
12/05/2022 11:55 ‧ 12/05/2022 por Lusa

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Ucrânia

"A cidade de Mariupol e os seus moradores sofreram horrores inimagináveis desde o início do ataque armado da Federação Russa", sublinhou a responsável na sessão especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU, hoje realizado.

"Estou chocada com a escala da destruição e as inúmeras violações do direito internacional, dos direitos humanos e do direito internacional humanitário que foram cometidas na cidade, incluindo ataques contra civis e bens civis", afirmou no seu discurso perante os membros do Conselho, reunidos em Genebra.

"Estimamos que o número de mortos civis em Mariupol esteja na casa dos milhares, mas só com o tempo será possível tornar claro a verdadeira escala de atrocidades, vítimas e danos", avançou Michele Bachelet, acrescentando que as áreas residenciais da cidade foram ocupadas pelas forças armadas russas e grupos armados afiliados.

Segundo a alta-comissária, não é só em Mariupol que os direitos humanos estão a ser violados.

O Alto Comissariado da ONU "continua a verificar [em toda a Ucrânia] alegações de violações do direito internacional, dos direitos humanos e do direito internacional humanitário, muitas das quais podem constituir crimes de guerra".

Bachelet adiantou que uma missão da organização esteve, na semana passada, em 14 cidades e vilas das regiões de Kiev e Chernihiv -- ocupadas por forças russas até março -- e recolheu relatos sobre a forma como "parentes, vizinhos e amigos foram mortos, feridos, detidos ou estão desaparecidos".

"Esta foi a segunda visita [que a organização fez] a estas regiões e dói-me imaginar quantas visitas serão necessárias para documentar apenas uma fração das flagrantes violações de direitos humanos que lá aconteceram", disse a alta-comissária.

De acordo com Michele Bachelet, "até ao momento, mais de 1.000 corpos civis foram recuperados apenas na região de Kiev", sendo que "algumas dessas pessoas foram mortas nas hostilidades, mas outras parecem ter sido sumariamente executadas".

Muitos morreram com problemas de saúde causados pelas hostilidades e pela falta de assistência médica, já que "passaram semanas em caves, ameaçados por soldados russos de abuso ou de morte se tentassem sair".

"Na aldeia de Yahidne, na região de Chernihiv, 360 moradores, incluindo 74 crianças e cinco pessoas com deficiência, foram forçados pelas forças armadas russas a permanecer durante 28 dias na cave de uma escola. A cave estava superlotada e as pessoas tinham de estar sentadas durante dias, sem possibilidade de se deitarem. Não havia instalações sanitárias, água ou ventilação. Dez idosos morreram", contou.

No seu discurso no Conselho de Direitos Humanos -- de onde a Rússia foi suspensa há algumas semanas -, Bachelet referiu ainda que "a escala de assassinatos ilegais, incluindo indícios de execuções sumárias em áreas a norte de Kiev, é chocante".

Embora o alto comissariado tenha informação sobre 300 desses assassinatos, "os números continuarão a aumentar à medida que novas evidências estiverem disponíveis", disse.

"Esses assassinatos de civis muitas vezes parecem ter sido intencionais, realizados por atiradores especiais ['snipers'] ou soldados. Civis foram mortos ao atravessar a estrada ou quando saíam dos seus abrigos para ir buscar comida e água", alertou Bachelet.

"Homens locais desarmados foram mortos porque os soldados russos suspeitavam que apoiavam as forças ucranianas ou constituíam uma ameaça potencial, e alguns foram torturados antes de serem mortos", acrescentou.

Por outro lado, sublinhou, o alto comissariado está a investigar "alegações de violência sexual e verificou uma dúzia de casos em todo o país" e foram documentados casos de "forças armadas russas que detiveram civis, principalmente homens jovens, e depois os transferiram para a Bielorrússia e depois para a Rússia, onde foram mantidos em centros de detenção preventiva".

Desde o início da invasão da Rússia à Ucrânia, em 24 de fevereiro, a organização já documentou "204 casos de desaparecimento forçado, dos quais 169 são homens, 34 são mulheres e um é um menino", informou a alta-comissária.

"Os que estão no comando das forças armadas devem deixar claro aos seus membros que qualquer pessoa envolvida em tais violações será processada e responsabilizada", avisou a líder da organização da ONU dedicada a defender os direitos humanos.

"Exorto ambas as partes em conflito a respeitarem plenamente as suas obrigações de direito internacional, direitos humanos e direito internacional humanitário, incluindo com investigações de todas as alegações de violações", concluiu.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,6 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

Leia Também: Rússia alerta NATO para risco de guerra nuclear total

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