Num vídeo do operador de câmara da Al Jazeera Majdi Banura hoje divulgado, é possível ver o momento em Shireen Abu Akleh, de 51 anos, foi abatida com uma bala na cabeça, junto da entrada do campo de refugiados de Jenin, onde estava a cobrir um ataque israelita com outros jornalistas.
"Assim que ela [Shireen Abu Akleh] caiu, eu não entendi que ela [tinha sido baleada]... Eu estava a ouvir o som das balas, mas não estava a entender que eles [militares israelitas] estavam a vir na nossa direção. Eu não estava a perceber", disse a jornalista palestiniana Shatha Hanaysha, à CNN.
Quando Shireen Abu Akleh foi baleada, Shatha Hanaysha disse que ficou em choque, sem conseguir entender o que se estava a passar, pensando que a sua colega tinha apenas tropeçado.
No entanto, uma investigação da CNN oferece novas provas -- incluindo dois vídeos do tiroteio -- de que não houve um combate ativo, nem militantes palestinianos, perto de Shireen Abu Akleh nos momentos que antecederam a sua morte.
Os vídeos obtidos pela estação de televisão norte-americana, confirmados por depoimentos de oito testemunhas oculares, um analista forense de áudio e um especialista em explosivos, sugerem quem a jornalista palestiniano-norte-americana foi morta num ataque direcionado pelas forças israelitas.
Salim Awad, de 27 anos, o residente no campo de Jenin que fez um vídeo de 16 minutos, disse à CNN que não havia palestinianos armados ou confrontos na área e que não esperava que houvesse tiros, devido à presença de jornalistas na área.
"Não houve conflito ou confronto. Éramos cerca de 10 pessoas, mais ou menos, lá, a rir e a brincar com os jornalistas. Não tínhamos medo de nada. Não estávamos à espera que acontecesse nada, porque quando vimos jornalistas por perto, achámos que seria uma zona segura", indicou.
O jovem disse que o tiroteio começou cerca de sete minutos depois de ter chegado ao local.
O seu vídeo mostra o momento que forma disparados tiros contra os quatro jornalistas -- Abu Akleh, Hanaysha, Mujahid al-Saadi e o produtor da Al Jazeera Ali al-Samoudi, que ficou ferido -- quando caminhavam, pelas 06:30, em direção a Jenin, onde moram cerca de 345.000 pessoas, das quais 11.400 vivem no campo de refugiados. Muitos estavam a caminho do trabalho ou da escola, e a rua estava relativamente tranquila.
O exército israelita afirmou na segunda-feira que mesmo que um dos seus soldados tenha disparado a bala que matou a jornalista palestiniano-norte-americana Shireen Abu Akleh na Cisjordânia, não parece ser culpado de "atividade criminosa", segundo o seu inquérito preliminar.
Depois de ter declarado que a repórter da estação televisiva Al-Jazeera morta com um tiro na cabeça em meados de maio -- que usava um colete à prova de bala com a inscrição "Imprensa" e um capacete de reportagem quando estava no campo de refugiados palestinianos de Jenin -- tinha "provavelmente" sucumbido a um tiro palestiniano, Israel anunciou não descartar que a bala tenha sido disparada pelos seus soldados.
Hoje, a conselheira-geral do exército, Yifat Tomer-Yerushalmi, considerou que "dado que a senhora Abu Akleh foi morta no meio de uma zona de combates intensos, não se pode imediatamente suspeitar de atividade criminosa, na ausência de mais provas".
A abertura de um inquérito criminal depende da disponibilização de outros elementos "do inquérito do exército e de outras fontes", indicou a responsável, de acordo com um comunicado do exército de Israel.
O exército assegurou hoje estar a fazer "todos os esforços para analisar as circunstâncias do incidente com o propósito de compreender como a senhora Abu Akleh foi morta", criticando a decisão da Autoridade Palestiniana de guardar a bala mortal.
"A impossibilidade de inspecionar a bala (...) continua a lançar dúvidas sobre as circunstâncias" do incidente, sustentou.
Na semana passada, o exército israelita afirmou que durante a troca de tiros entre soldados e homens armados palestinianos, "um soldado disparou algumas balas a partir de um veículo [do exército], utilizando uma mira, sobre um palestiniano que estava a disparar sobre o veículo mencionado".
"O atirador palestiniano disparou muitas vezes sobre o soldado [israelita] e é possível que a senhora Abu Akleh, que estava perto do atirador palestiniano, atrás, tenha sido atingida pelos disparos do soldado", indicou.
O Presidente palestiniano, Mahmud Abbas, disse considerar as autoridades israelitas "totalmente responsáveis" pela morte da jornalista, recusando uma investigação conjunta com Israel, por falta de "confiança".
A Al-Jazeera acusou as forças israelitas de terem matado "de forma deliberada" e a "sangue frio" uma das suas principais jornalistas.
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