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"Vi-o deitado, aqui". Viúva recorda marido assassinado por soldado russo

Shelipova recordou o momento em que encontrou o marido, com quem estava casada há 36 anos, morto com um tiro na cabeça, vítima do combatente russo agora condenado a prisão perpétua.

Notícias ao Minuto

19:48 - 25/05/22 por Notícias ao Minuto

Mundo Ucrânia/Rússia

Após a condenação a prisão perpétua do soldado russo de 21 anos que assassinou o seu marido, Kateryna Shelipova recordou o momento em que encontrou o corpo do homem com quem estava casada há 36 anos, com uma bala na cabeça, naquele dia fatídico de fevereiro, logo depois do início da invasão russa da Ucrânia.

Abrindo as portas de sua casa, - cujas imagens poderá ver na galeria acima -, a mulher contou à Reuters ter visto o comandante Vadim Shishimarin com uma arma, pouco antes de encontrar Oleksandr Shelipov, de 62 anos, deitado numa estrada ali perto, com uma bala na cabeça.

“Quando saí do quintal, não o vi imediatamente. Mas quando me afastei, olhei e vi-o deitado, aqui”, disse, apontando para o espaço entre duas árvores de ameixa e recordando ter sido alertada pelo barulho dos tiros.

“Ele foi atingido na cabeça”, e a bicicleta estava sobre as suas pernas, acrescentou.

Shelipov estava desarmado e vestia roupas civis. O casal tem um filho, de 27 anos, e dois netos, disse, enquanto mostrava uma fotografia do seu casamento.

“Ainda não acredito que não está entre nós. Ainda penso que está aqui, que virá aqui dizer ‘olá’”, confessou Mykola Radkov, amiga da viúva.

Shishimarin, agora condenado a prisão perpétua, declarou-se culpado do homicídio no dia 18 de maio, dizendo estar, contudo, “muito arrependido”. "Estou muito arrependido. Estava nervoso, na altura; não queria matar... foi assim que aconteceu", referiu, durante a audiência daquele dia.

O advogado de defesa do jovem, Viktor Ovsiannikov argumentou que o seu cliente disparou após ter recusado fazê-lo por duas vezes, e que a vítima foi atingida apenas uma vez. Disse ainda que Shishimarin atirou contra Shelipov por temer pela própria vida, questionando as suas intenções de levar a cabo um homicídio.

Os dados recolhidos pela procuradora-geral ucraniana, Iryna Venediktova, indicam que o crime ocorreu depois de o sargento e os seus colegas terem fugido, após dispararem contra um carro particular e o roubarem.

Já em Chupakhivka, viram um homem de bicicleta, a falar ao telefone. Shyshimarin foi, então, instruído para o matar, alegadamente de forma a impedir que este comunicasse a localização das tropas russas às autoridades ucranianas. Assim, o soldado disparou a sua Kalashnikov através de uma janela aberta da viatura, atingindo a vítima na cabeça.

Recorde-se que o primeiro julgamento de crimes de guerra relacionado com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia teve início no dia 13 de maio, culminando com o veredito de prisão perpétua, conhecido na segunda-feira.

No Fórum Económico Internacional, a procuradora-geral revelou ainda que mais 48 soldados russos serão julgados por crimes de guerra em solo ucraniano, adiantando que o país está a investigar cerca de 13 mil crimes de guerra cometidos pelas forças russas durante a invasão da Ucrânia.

A invasão russa da Ucrânia - justificada por Putin pela necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar aquele para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores.

Esta quarta-feira, a Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou que 3.974 civis morreram e 4.654 ficaram feridos no conflito, que entrou no seu 91.º dia. Ainda assim, o organismo sublinhou que os números reais poderão ser muito superiores, e que só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora palco de intensos combates.

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