Cabo Delgado. Rebeldes adotaram guerrilha e são precisas forças especiais
O especialista em Direito e Segurança moçambicano Rodrigues Lapucheque considerou que os grupos armados que atuam em Cabo Delgado adotaram táticas de guerrilha, em pequenos grupos, e a sua erradicação exige forças especiais preparadas para esta nova realidade.
© Lusa
Mundo Moçambique
Os insurgentes "recuaram, foram-se organizando em pequenos grupos, para fazer face às forças regulares, que são as forças da SADC mais o Ruanda", afirmou Lapucheque, docente universitário e coronel de Infantaria Motorizada nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), doutorado em Direito e Segurança pela Universidade Nova de Lisboa.
Os rebeldes, prosseguiu, apostam agora numa característica típica de guerrilha: desgaste do adversário, emboscadas a militares e assaltos a aldeias, onde procuram comida.
Foram obrigados a abandonar a conquista e ocupação de território, atuando em permanente fuga e mobilidade, explicou.
Rodrigues Lapucheque assinalou que "a adaptação" dos grupos armados a uma nova forma de atuação resultou do sucesso do combate movido pelas forças governamentais, principalmente depois da chegada de contingentes militares da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) e do Ruanda, a partir de julho de 2021.
A transformação dos rebeldes levou ao prolongamento dos prazos iniciais do mandato do contingente da SADC e de anúncios de uma presença por tempo indeterminado do contingente ruandês, observou.
A capacidade de adaptação dos grupos armados, prosseguiu, tem a ver com a experiência em guerrilha de terroristas internacionais que se juntaram às células locais da rebelião armada em Cabo Delgado, principalmente dos combatentes de grupos associados ao Al-Shebab, o movimento islamita rebelde que combate o Governo da Somália e as forças militares internacionais que o apoiam.
"Não são uns terroristas quaisquer, são terroristas islâmicos radicais da célula da organização radical Al-Shebab, que, em princípio, têm atuado a partir da Somália", com alguns destes combatentes a sair do país, devido à pressão militar das forças governamentais e internacionais.
Têm fugido para o Quénia, passam pela Tanzânia e entram em Moçambique, onde apanham um terreno fértil para combater, devido às semelhanças socioculturais nas comunidades islâmicas da região costeira e à facilidade de recrutamento de novos membros entre a juventude pobre e desempregada de Cabo Delgado, explicou o especialista.
Para conter a mutação dos insurgentes em Cabo Delgado, o Governo moçambicano deve apostar forte no treino -- já em curso -, formação e equipamento de forças especiais, com capacidades de combate contra guerrilha, acrescentou.
Esse efetivo deve ser dotado de meios de mobilidade rápidos e modernos, quer terrestres, quer aéreos, e telecomunicações avançadas para uma melhor coordenação de ações de combate, abastecimento e retirada de feridos e baixas, explicou o especialista.
Rodrigues Lapucheque assinalou a importância de Moçambique ter o seu próprio poder de fogo contra os "jihadistas radicais", porque a permanência das forças da SADC e do Ruanda não será eterna, tem custos elevados e pode começar a ser questionada pela opinião pública dos seus países, devido a dificuldades económicas que essas missões acarretam.
Aquele militar observou que o Ruanda conseguiu expulsar os insurgentes das suas principais bases em Cabo Delgado, porque as forças governamentais deste país têm muita experiência de combate na sub-região da África Oriental, mas a SADC também restaurou a segurança em zonas sob a sua jurisdição no norte de Moçambique.
Sobre receios de descoordenação entre as forças no terreno em Cabo Delgado, Rodrigues Lapucheque assevera que a realidade tem demonstrado que esses riscos têm sido evitados, através de uma maior comunicação entre as chefias militares e articulação no terreno.
Lapucheque avisou que as vicissitudes da guerra em Cabo Delgado tornam irrealista a tentação de apontar prazos para a derrota do extremismo armado na província.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.
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