Uma comissão independente, criada pelo Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) para investigar as ações israelitas em 2021 na Faixa de Gaza, condenou, esta terça-feira, a ocupação ilegal de territórios palestinianos por Israel, impedindo os palestinianos de ter um Estado.
Segundo um relatório, publicado esta terça-feira no site da ONU, o governo de Israel terá praticado abusos de direitos humanos antes e depois dos acontecimentos de maio de 2021 - no qual morreram cerca de 250 palestinianos, a grande maioria civis em estruturas não-militares, e foram destruídos hospitais, escolas e redações de média.
Os bombardeamentos israelitas surgiram em resposta a rockets lançados pelo Hammas, a partir da Faixa de Gaza, que, por sua vez, reagiram a mais despejos ilegais na Cisjordânia para a instalação de novos colonos israelitas. Do lado israelita, morreram 13 pessoas.
A comissão independente refere, citada pela Reuters, que Israel não tem "qualquer intenção em terminar com a ocupação" e tenciona conseguir o "controlo completo" dos territórios ocupados da Palestina, incluindo em Jerusalém, onde a presença de palestinianos tem sido alvo de constante opressão pelas forças militares israelitas.
O relatório também exige que o governo israelita respeite os direitos humanos da comunidade árabe, alegando a existência de um sistema que dá "estatuto civil, direitos e proteção legal diferentes". A lei israelita, acusada por organizações não-governamentais de promover um regime de apartheid, impede a participação cívica de palestinianos em muitos aspetos da vida social, impede a saída da Faixa de Gaza e proíbe a naturalização de palestinianos casados com israelitas.
Segundo a Reuters, a comissão não tem qualquer poder legislativo, mas o relatório será discutido em Genebra, no Conselho de Direitos Humanos, na próxima semana.
O governo israelita repudiou, sem surpresas, as conclusões do relatório. Segundo o ministério dos Negócios Estrangeiros, em declarações à Reuters, o documento é "uma perda de dinheiro e de esforço" e acusou-o de ser enviesado e de impedir a entrada dos seus próprios investigadores (apesar do próprio governo ter boicotado a comissão).
A resposta de Telavive não é nova, já que os vários relatórios que denunciam a violência na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental são sempre boicotados por Israel, com o apoio dos Estados Unidos.
Em maio, em Jerusalém, a Al Jazeera avançou que a jornalista palestina Shireen Abu Akbeh fora morta a tiro pelas forças israelitas. A morte de Shireen deu origem a protestos e, durante o funeral da repórter, a polícia israelita agrediu violentamente os palestinianos no local, incluindo os que seguravam no caixão. No mesmo mês, a icónica mesquita de Al-Aqsa foi atacada por tropas israelitas e grupos de extrema-direita entoaram "morte aos árabes" pelas ruas de Jerusalém.
A ONU prometeu investigar as circunstâncias da morte de Shireen Abu Akbeh, mas o governo israelita desvalorizou rapidamente o homicídio, prometendo a sua própria investigação.
Leia Também: Israel usou "arma química" contra Gaza ao atacar depósito de agroquímicos