Editores solução para desaparecimento de jornalista na Amazónia
Editores de 'medias' globais como o The Guardian, New York Times, The Washington Post ou Associated Press pediram ações do Governo brasileiro face ao desaparecimento de um jornalista e de um guia indígena na Amazónia, numa carta divulgada hoje.
Mundo Amazónia
Endereçada ao Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ao ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, e ao ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, o documento frisa a intenção dos editores de expressarem o que classificaram como 'extrema preocupação' com a segurança e o paradeiro do jornalista britânico Dom Phillips, e do guia indígena brasileiro Bruno Araújo Pereira, na região do Vale do Javari, no estado brasileiro do Amazonas.
"Como você saberá por inúmeras reportagens da imprensa [media], Dom e Bruno estão desaparecidos na Amazónia há mais de três dias. As suas famílias, amigos e colegas solicitaram repetidamente assistência de autoridades locais, estaduais e nacionais e serviços de emergência", frisaram, na carta aberta publicada no site do The Washington Post.
"Estamos agora muito preocupados com os relatos do Brasil de que os esforços de busca e resgate até agora têm recursos mínimos, com as autoridades nacionais a demorarem a oferecer assistência mais do que muito limitada", acrescentou-se no documento.
Os editores pediram às autoridades que "intensifiquem com urgência e recorram totalmente ao esforço para localizar" os dois homens e "forneçam todo o apoio possível às suas famílias e amigos", conclui a carta assinada ainda por representantes de outros 'media' como Sérgio Dávila, editor-chefe da Folha de S.Paulo, John Micklethwait, editor-chefe da Bloomberg News, e Phil Chetwynd, diretor de notícias globais da AFP, entre outros.
Além dos editores, cientistas, artistas, jornalistas e estrelas do futebol -- incluindo o lendário Pelé -- juntaram-se a uma campanha nas redes sociais para pedir às autoridades que reforcem os esforços de busca.
O guia brasileiro Bruno Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips desapareceram no domingo numa reserva indígena conhecida como Vale do Javari, na Amazónia brasileira, onde estavam a trabalhar.
O Vale do Javari é uma extensa região de rios e selva no coração da Amazónia, na fronteira com o Peru, e que abriga o maior número de indígenas isolados do mundo. A área está ameaçada pela pesca e mineração ilegal e nos últimos anos tornou-se uma rota de tráfico de drogas.
O paradeiro de Phillips e Araújo, profundos conhecedores daquela área, perdeu-se quando viajavam da comunidade de São Rafael para a cidade de Atalaia do Norte, no Amazonas, onde deveriam ter chegado na manhã de domingo.
O jornalista e o ativista viajavam num barco novo, com 70 litros de gasolina, o suficiente para fazer o trajeto planeado, e foram vistos pela última vez perto da comunidade de São Gabriel, a poucos quilómetros de São Rafael.
A polícia civil do estado do Amazonas disse na quarta-feira que identificou um suspeito, que foi detido por supostamente ter na sua posse uma arma de fogo sem autorização, o que é prática comum na região.
Mas o general Carlos Alberto Mansur, secretário de segurança pública do estado, disse mais tarde que as autoridades não tinham nenhuma prova concreta para vincular o homem aos desaparecimentos.
As autoridades brasileiras informaram que começaram a usar helicópteros nas buscas, depois de uma decisão judicial proferida na Justiça Federal do Brasil.
Araújo, que trabalha na região há anos, foi alvo de várias ameaças de mineradores ilegais, madeireiros e até traficantes de drogas que atuam na região, o que levantou receios de um assassínio entre os seus próximos.
Phillips, por sua vez, é um jornalista veterano radicado no Brasil há 15 anos e que colaborou com diversos meios de comunicação social internacionais, como Financial Times, New York Times e Washington Post, entre outros, e atualmente trabalha numa investigação para um livro sobre o Vale do Javari.
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