Segundo o relatório "Tendências globais: Deslocamentos Forçados", divulgado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o número de pessoas forçadas a deixar suas casas devido a guerras, violência e violações dos direitos humanos tem crescido todos os anos na última década e, no final de 2021, atingiu o recorde de 89,3 milhões, mais 8% do que em 2020 e mais do dobro de há 10 anos.
Destes, 53,2 milhões estão deslocados nos seus próprios países, 27,1 milhões são refugiados, ou seja, estão deslocados fora do seu país e têm estatuto de refugiado, e 4,6 milhões são requerentes de asilo.
Segundo o documento, a África subsaariana acolhe mais de um quarto de todas as pessoas deslocadas num país diferente do seu e mais de três quartos de todos os novos deslocados internos em 2021.
A região acolhe também um quinto de todos os refugiados no mundo, sobretudo em três países: Uganda (1,5 milhões), Sudão (1,1 milhões) e Etiópia (821 mil).
O Uganda é o segundo país do mundo que mais refugiados acolhe, depois da Turquia, que abrigava 3,8 milhões de pessoas no final de 2021.
A Etiópia destaca-se também no número de deslocados internos, conclui o ACNUR: O conflito na região do Tigray, no norte do país, levou pelo menos 2,5 milhões de pessoas a deslocarem-se dentro do país em 2021. Apesar disso, cerca de 1,5 milhões regressaram a casa ao longo do mesmo ano.
Segundo o relatório, o país tem hoje mais de 3,6 milhões de deslocados internos, mais do triplo do que tinha há quatro anos (1,1 milhões).
O conflito no Tigray deflagrou no final de 2020 entre o Governo federal e o antigo governo regional do Tigray, acabando por alastrar-se às regiões vizinhas de Amhara e Afar e fazendo manchetes em todo o mundo devido a relatos de violações generalizadas de direitos humanos.
Uma investigação conjunta da Comissão Etíope dos Direitos Humanos e do Alto Comissariado dos Direitos Humanos das Nações Unidas concluiu que os deslocamentos forçados na região poderão constituir "crimes contra a humanidade e crimes de guerra", implicando todas as partes envolvidas no conflito.
Em 2021, a violência na região do Sahel também provocou centenas de milhares de deslocamentos forçados, em particular no Burkina Faso, no Chade e no Mali.
Genericamente poupado até 2017 pela violência que provocou deslocamentos internos nos países vizinhos, o Burkina Faso viu crescer o número de deslocados de menos de 50 mil no início de 2018 para 1,6 milhões quatro anos depois (507 mil em 2021), revela o relatório do ACNUR.
A República Centro-Africana registou 393 mil novos deslocados internos devido à insegurança e à violência relacionada com as eleições gerais de dezembro de 2020, embora a maioria tenha regressado a casa durante o ano de 2021.
Quase três milhões de pessoas foram forçadas a deslocar-se no interior da República Democrática do Congo (RDCongo) ou para os países vizinhos, muitas das quais regressaram ao longo do ano, e mais de meio milhão de novos deslocamentos foram provocados pela violência intercomunal na região sul-sudanesa de Equatória, elevando para dois milhões o número de deslocados internos devido à violência no país.
O vizinho Sudão também registou mais de 540 mil novos deslocados internos atribuídos sobretudo a conflitos entre comunidades e à violência que se seguiu ao golpe militar de outubro de 2021, elevando para três milhões o número de deslocados internos no país no final do ano, enquanto na Somália, mais de meio milhão de pessoas (544 mil) ficaram internamente deslocadas em 2021.
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