Num debate com o Parlamento Europeu, em Bruxelas, na véspera de uma cimeira na qual os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) vão decidir sobre as recomendações da Comissão relativamente às candidaturas apresentadas pela Ucrânia, Moldova e Geórgia, Ursula von der Leyen reiterou que as avaliações do seu executivo foram baseadas nos méritos e destacou em particular "o imenso progresso" que a democracia ucraniana alcançou desde os protestos de Maidan, em 2014.
"O nosso parecer resulta de uma avaliação cuidadosa e minuciosa da realidade no terreno. E os factos dizem-nos que a Ucrânia merece uma perspetiva europeia, e também o estatuto de candidato, no pressuposto de que o país levará a cabo uma série de outras e importantes reformas", declarou a presidente da Comissão, que, nas recomendações emitidas na semana passada, defendeu também a concessão do estatuto de país candidato à Moldova, enquanto para a Geórgia entende serem necessários mais passos.
Focando-se naturalmente na Ucrânia, Von der Leyen recordou que o país "tem resistido corajosamente contra a agressão da Rússia" já desde 2014, "desde os primeiros dias da Maidan", referindo-se à vaga de protestos que se seguiu à decisão do então Governo pró-russo de não assinar o acordo de associação com a UE, optando por estreitar relações com Moscovo.
Pouco depois, a Rússia anexou a península da Crimeia.
"A Ucrânia passou por repressão e sublevação. Passou por uma anexação territorial e, agora, por uma guerra total. É o único país onde pessoas foram alvejadas porque estavam embrulhadas numa bandeira europeia. A Ucrânia tem passado por um autêntico inferno por uma razão simples: o seu desejo de aderir à União Europeia", sublinhou a dirigente alemã.
Apontando que "a Comissão Europeia respondeu explicitamente a este desejo" e que a recomendação emitida "reconhece o imenso progresso que a democracia da Ucrânia tem alcançado desde os protestos da [praça] Maidan", Von der Leyen admitiu que naturalmente há trabalho pela frente, designadamente no combate à corrupção e à excessiva influência dos oligarcas na sua economia, áreas onde "já foram dados importantes passos na direção certa".
"Com as suas candidaturas, Ucrânia, Moldova e Geórgia estão a dizer-nos que querem mudança. Eles querem mais democracia, mais liberdades e reformas mais fortes. Estão a dizer-nos que querem a Europa. Até onde chegarão e a rapidez com que o farão dependerão, antes de tudo o mais, das suas ações e dos seus progressos", assegurou.
Agradecendo ao Parlamento Europeu o seu inequívoco apoio à ambição europeia da Ucrânia e também da Moldova e Geórgia, a presidente da Comissão disse então que "cabe agora ao Conselho Europeu decidir e estar à altura da responsabilidade histórica" deste momento.
"A história da nossa União é uma história das jovens democracias que se estão a fortalecer juntas. É a história do renascimento da Alemanha após a guerra. É a Grécia, Espanha e Portugal a passar rapidamente da ditadura para a democracia em meados da década de 1970. Foi a revolta democrática que derrubou a Cortina de Ferro. É o longo caminho da reconciliação nos Balcãs Ocidentais. Um caminho que deve levar todos os seis países dos Balcãs Ocidentais a aderirem à nossa União", declarou.
E concluiu: "O próximo capítulo está a ser escrito hoje, pelo povo corajoso da Ucrânia, e por todos nós, que os devemos acompanhar no seu caminho europeu. Mais uma vez, este é o momento da Europa. E devemos aproveitá-lo".
Os líderes da UE reúnem-se entre quinta e sexta-feira em Bruxelas numa cimeira dominada pelo alargamento, com todas as atenções centradas na mais do que provável atribuição do estatuto de país candidato à adesão à Ucrânia.
Num Conselho Europeu antecedido de uma reunião de líderes da UE e dos países dos Balcãs Ocidentais -- há anos na 'fila de espera' para aderir ao bloco comunitário -, os chefes de Estado e de Governo dos 27 vão debruçar-se sobre as recentes recomendações da Comissão Europeia relativamente aos pedidos de adesão apresentados pela Ucrânia, Moldova e Geórgia já depois de a Rússia ter invadido o território ucraniano.
O executivo comunitário recomendou a atribuição do estatuto de países candidatos à Ucrânia e Moldova, enquanto para a Geórgia propõe que lhe seja dada apenas "perspetiva europeia", por considerar que são necessários mais passos para o estatuto de país candidato.
As atenções estão inevitavelmente centradas na decisão sobre a Ucrânia, parecendo agora um dado adquirido que os 27 seguirão a recomendação da Comissão, sobretudo desde que, na passada semana, os líderes das três maiores economias da União -- o chanceler alemão Olaf Scholz, o Presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro italiano Mario Draghi -- estiveram em Kiev para expressar em conjunto o seu apoio à concessão do estatuto com efeito "imediato".
Na terça-feira, num Conselho de Assuntos Gerais -- ao nível de ministros responsáveis pelos Assuntos Europeus -, registou-se um "consenso total" entre os Estados-membros sobre a atribuição do estatuto de país candidato à adesão à Ucrânia, revelou a presidência francesa, tendo hoje fontes diplomáticas confirmado a expectativa de que o Conselho Europeu apoie as recomendações da Comissão e aprove o estatuto de candidatos para Ucrânia e Moldova sem imporem condições suplementares.
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