No julgamento, que decorre em Paris, a procuradoria nacional antiterrorista vincou que o antigo alto funcionário público "falhou no seu dever" de proteger os tutsis no seu município quando "tinha meios para agir", considerando-o o "autor principal" do crime.
Laurent Bucyibaruta, presidente do município de Gikongoro, entre 1992 e julho de 1994, está a ser julgado desde 9 de maio por genocídio, cumplicidade no genocídio e cumplicidade em crimes contra a humanidade, acusações que o antigo autarca rejeita.
A região do sul do Ruanda foi uma das mais afetadas durante o genocídio contra a minoria tutsi, que provocou pelo menos 800 mil vítimas, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).
Os dois procuradores-gerais acentuaram "a cumplicidade" de Bucyibaruta "por ajuda ou assistência" no massacre de cerca de 25.000 refugiados tutsis na paróquia de Kibeho, em 14 de abril de 1994, quando, "ciente da situação, deixou que acontecesse".
No caso dos homicídios de 21 e 22 de abril, numa escola em construção em Murambi, em Cyanika e em Kaduha, de que resultaram cerca de 75.000 mortes, e para o assassinato de uma centena de alunos numa escola secundária em Kibeho, em 7 de maio, consideraram que o antigo autarca deve ser considerado como "autor" do genocídio.
"Ele executou conscientemente as diretivas" do Governo interino, que "visavam a erradicação dos tutsis", e depois "passou-as a todos os elos da cadeia administrativa", argumentou a acusação.
Laurent Bucyibaruta, agora com 78 anos, é mais alto funcionário ruandês julgado no estrangeiro fora do Tribunal Penal Internacional de Haia.
A procuradora Céline Viguier alertou que além do homem hoje "diminuído pela doença", que "goza hoje de uma reforma pacífica nos subúrbios de Troyes", está um antigo autarca que, com 50 anos, na altura do genocídio, era "experiente no exercício do poder" e dotado de uma "certa ambição".
Foi ainda referido tratar-se de "um funcionário público eficiente, rigoroso e zeloso", "um homem poderoso", que "escolheu continuar a servir" naquelas circunstâncias.
Durante o julgamento, o acusado considerou-se "esmagado" pelos acontecimentos, não tendo poder num país sob o domínio do "caos".
Os advogados de defesa fazem as suas alegações na segunda-feira e espera-se que a sentença seja conhecida na terça-feira.
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