PM de Cabo Verde pede "frente comum" e "cerrar fileiras" devido à crise
O primeiro-ministro cabo-verdiano assegurou hoje que o Estado tem absorvido os principiais impactos da crise provocada pela guerra na Ucrânia, mas pediu uma "frente comum" nacional e "cerrar fileiras" para responder às consequências.
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Mundo Ucrânia
"Ganhar essa consciência de que estamos numa situação difícil e grave é importante para podermos melhorar comportamentos, atitudes e fazer a assunção de facto da intervenção, sem prejuízo de o Governo assumir as suas responsabilidades, porque tem a responsabilidade da liderança do processo, mas não pode ser o único ator (...). É importante que possamos ter esta frente comum para a ação e ao nível dos nossos parceiros há várias formas de agir e atuar", afirmou Ulisses Correia e Silva.
Ao intervir esta manhã na abertura do Fórum Nacional Emergência de uma Frente Comum para Enfrentar e Vencer as Crises, que está a decorrer no palácio do Governo, na Praia, com a presença de parceiros sociais e representantes da sociedade civil, o primeiro-ministro recordou que Cabo Verde está a viver "há algum tempo uma sucessiva fase de crises".
"Desde 2016 praticamente. Tem a ver com a seca severa, que está muito ligada a fenómenos meteorológicos extremos provocados pelas mudanças climáticas, a pandemia da covid-19 e agora os efeitos gravosos da guerra na Ucrânia e sobre um país como Cabo Verde que tem as suas vulnerabilidades. Uma economia aberta ao mundo com forte exposição a choques externos, o que faz com que nós sintamos com níveis muito mais elevados aquilo que são os efeitos externos", explicou, admitindo que o país, que importa 80% dos alimentos que consome, não tem como acomodar, nomeadamente, os efeitos da escalada de preços, ao mesmo tempo que recupera das consequências económicas da pandemia de covid-19.
Dados avançados pelo Governo cabo-verdiano em junho apontam que o custo total para implementação das medidas de mitigação dos efeitos das crises alimentar e energética, para conter a escalada de preços no arquipélago, é de 8,9 mil milhões de escudos (80,7 milhões de euros) até ao final deste ano.
"E se o Governo não tivesse introduzido medidas de estabilização de preços, estaríamos com preços a disparar nas famílias, nas empresas. Isto quer em relação à energia, combustíveis, gasóleo, gasolina, gasto, butano, eletricidade. Aquilo que está a ser sentido pelas famílias e pelas empresas é apenas uma parte do efeito. A parte maior está a ser absorvida e essa absorção significa custos, encargos e compensação desses encargos, para além dos efeitos sobre a produção alimentar, os produtos alimentares, os preços dos produtos alimentares e a segurança alimentar", sublinhou o chefe do Governo.
Segundo Ulisses Correia e Silva, o país tem adotado as medidas possíveis, como a recente declaração da situação de emergência social e económica, com objetivos claros: "Para termos uma perceção muito clara que estamos de facto em crise. Crise mundial e Cabo Verde faz parte do mundo, e recebe os efeitos dessa crise, e ter essa consciência é importante. Primeiro para podermos acomodar o nosso nível de consumo. Estou a falar dos cidadãos, estou a falar das empresas, estou a falar das organizações, à situação. Em segundo lugar, essa consciencialização permite valorizar também as medidas, a compreensão dessas medidas", apontou.
Depois, enfatizou, para apoiar a mobilização de recursos "junto dos parceiros", para dar respostas "de mitigação e de proteção".
"E é neste ponto que nós entendemos que deveremos criar uma grande frente comum de ação para podermos fazer esta sensibilização e podemos aumentar os níveis de ação e de solidariedade e dar as respostas que são necessárias", apelou, num fórum que tem como objetivo principal a construção de uma "plataforma comum de ação" com a sociedade cabo-verdiana.
"Temos uma tendência muito forte aqui em Cabo Verde que tudo o que acontece é Estado e Governo e responsabilidade governamental. E a vida não é assim, as situações não são assim e quanto mais se afunila apenas numa entidade, mais problemas temos de respostas. E é preciso que essa responsabilização, mais do que a responsabilização, que essa ideia coletiva da resposta de ação, seja de facto compreendida, interiorizada", disse anda.
Numa crise com claros efeitos nos preços e por consequência "económicos e sociais que podem ser muito mais gravosos do que a pandemia", Ulisses Correia e Silva apelou ao envolvimento de todos, desde as Igrejas, às associações e organizações não-governamentais, passando também pelos municípios.
"No sentido da fazermos ações que façam, primeiro, uma compreensão muito clara da situação. Deixar essa coisa muito cabo-verdiana também de distribuir culpas, que não resolve problemas nenhuns. A culpa, se houver, está lá onde a guerra está a acontecer e por quem começou essa guerra, mas concentrarmo-nos relativamente ao essencial das respostas que precisamos para sermos eficientes, eficazes e conseguirmos. E já demos provas de que podemos conseguir, e conseguimos, relativamente à pandemia", acrescentou.
"Portanto, termino com este pedido para nós podermos cerrar fileiras. Temos condições de o fazer. Conseguimos fazer nas várias outras situações, temos séculos de resiliência nesta nação, mas isso não é suficiente para poder dar as respostas que precisamos. Precisamos é olhar para trás, para a nossa resiliência, e fazer uma ação proativa de respostas que precisamos neste momento", apelou.
O país vive ainda uma profunda crise económica, após uma recessão de quase 15% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, face à ausência de turismo provocada pela pandemia de covid-19, setor que garante 25% do PIB e do emprego.
A economia cabo-verdiana cresceu 7% em 2021, impulsionada pela retoma da procura turística, e previa 6% de crescimento em 2022, projeção entretanto revista para 4%, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia.
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