A 20 de fevereiro, Valya - nome fictício - recebeu uma chamada do seu filho, soldado no exército russo. A sua unidade estava "em exercícios" perto da fronteira ucraniana. "Disse-me que estavam a fazer exercícios de tiro e a viver em tendas", disse Valya à BBC. "Esta foi a última vez que falei com ele".
Quatro dias depois, as tropas russas invadiram a Ucrânia.
A mulher deu entrevista ao meio de comunicação britânico sob pseudónimo temendo as repercussões das autoridades por se manifestar.
"No início de março, um sargento telefonou-me da base do meu filho. Ele provavelmente telefonou a todos os pais", diz ela.
"Então, um homem que afirmava ser amigo do meu filho enviou-me uma mensagem. Eu não o conhecia. Ele encontrou-me nas redes sociais. Disse-me que a perna do meu filho tinha sido amputada e que ele estava morto. Fiz muitas chamadas e tentei encontrar-me com funcionários. Mas ninguém me podia dizer nada", revela.
"Eventualmente o sargento com quem eu tinha falado disse-me: 'O seu filho fez o último contacto no dia 23 de fevereiro'", prossegue.
"'Então, porque tem telefonado [para dizer que está tudo bem]? Só para nos acalmar? 'Desculpe, eu sou apenas um sargento', disse ele".
Valya tentou saber mais, ligando para inúmeros gabinetes.
"Ninguém me deu as informações básicas: onde, quando e como o meu filho desapareceu". Só me disseram que ele estava a participar na 'operação militar especial' e que está desaparecido".
A Rússia admitiu ter sofrido perdas "significativas" de tropas na Ucrânia, mas não dá números. Tais informações são difíceis de obter e o ministério da Defesa da Rússia não atualiza o número oficial de mortos militares desde 25 de março.
Nessa altura, o número era de 1.351 soldados russos mortos. No mês seguinte, o Kremlin admitiu perdas "significativas" de tropas na Ucrânia.
Na mesma entrevista, Valya diz que não vê a Ucrânia como o inimigo.
"Se o nosso país tivesse sido atacado desta forma, também nos estaríamos a defender, como eles estão. Defender-nos-íamos e também estaríamos zangados", diz ela.
Muitos russos acreditam na versão oficial do governo e apoiam a "operação militar especial", tal como lhes é apresentada na televisão estatal. Na Rússia, o Kremlin controla a televisão e, por conseguinte, o envio de mensagens.
Mas não completamente. Valya está em contacto com as mães dos soldados em toda a Rússia. Ela afirma que entre as mães há um ressentimento crescente para com as autoridades.
"Elas odeiam o governo. Odeiam Putin", diz-me Valya. Todas querem que esta guerra termine".
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