"Não recebemos nenhuma dose até agora. Ainda estamos a conversar com os atores relevantes para encontrar uma maneira de trazer vacinas para o continente", disse Ahmed Ogwell, diretor interino do África CDC, uma agência dependente da União Africana (UA), durante uma videoconferência.
Segundo aquele responsável, os motivos pelos quais esses medicamentos ainda não chegaram a África -- o único continente que registou mortes desta doença -- "são os mesmos que explicam a demora na obtenção de vacinas contra a covid-19 ou tratamento contra o HIV há cerca de 20 anos": a propriedade intelectual desses produtos e a falta de recursos (económicos) necessários para os adquirir.
"[As vacinas] estão nas mãos de quem tem mais capacidade ou onde esses produtos estão a ser produzidos", acrescentou.
Os países ricos, como os Estados Unidos ou os membros da União Europeia (UE), estão adquirir os medicamentos recomendados até agora para imunizar contra a varíola.
Entre esses medicamentos está a vacina Imnavex, autorizada pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e pela Food and Drug Administration (FDA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos - onde é comercializada com a designação Jynneos - contra a varíola e a varíola dos macacos.
Há também a vacina ACAM2000, aprovada pela FDA para prevenir a varíola.
"Estamos a contactar os proprietários [intelectuais] dos produtos para que eles compreendam a necessidade de se ter uma perspetiva de saúde pública e não de apenas de negócios", enfatizou Ogwell.
O diretor interino do África CDC referia-se ao açambarcamento precoce das vacinas contra a covid-19 pelos países ricos durante o primeiro ano da pandemia, o que fez com que o continente africano tivesse acesso aos medicamentos muito depois.
Muitos países pobres do continente africano dependem quase inteiramente do programa de acesso equitativo COVAX (promovido pela OMS e outras organizações) e do mecanismo de aquisição coletiva estabelecido pela UA para a compra de vacinas.
Outro grande obstáculo para os países africanos foram as patentes, que as empresas farmacêuticas se recusaram a libertar, bem como a baixa capacidade do setor de produção de vacinas do continente, que importa 99% do que consome.
De acordo com a OMS, desde o início de 2022 e até agora, mais de 18.000 casos de varíola dos macacos foram detetados em 78 países, enquanto o África CDC confirmou que mais de 2.000 infeções foram registadas em 11 países africanos - embora a grande maioria seja suspeita e não tenha ainda sido confirmada laboratorialmente -, além de 75 óbitos.
Além disso, os países onde a doença é endémica são africanos: Benim, Camarões, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Gabão, Costa do Marfim, Libéria, Nigéria, República do Congo, Serra Leoa, Sudão do Sul e Gana (onde só foi identificado em animais).
Em África, a varíola dos macacos espalha-se principalmente por animais selvagens infetados, como roedores, em surtos limitados que normalmente não cruzam fronteiras. Na Europa, América do Norte e em outros lugares, no entanto, a varíola dos macacos está a espalhar-se entre pessoas sem vínculos com animais ou viagens recentes à África.
Nos EUA e na Europa, a grande maioria das infeções ocorreu em homens que têm relações sexuais com homens, embora as autoridades de saúde tenham enfatizado que qualquer pessoa pode contrair o vírus.
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