O soldado russo Pavel Filatyev decidiu partilhar publicamente a sua opinião sobre a invasão russa na Ucrânia, mesmo consciente de que pode sofrer fortes consequências, inclusive ser preso.
"Não vejo justiça nesta guerra. Não vejo a verdade aqui", confessou à imprensa em Moscovo, já após ter regressado dos combates entre a Rússia e a Ucrânia por ter ficado ferido. Nas declarações que prestou admitiu que não tem medo de lutar, mas precisa de "sentir justiça", para compreender se o que está a fazer "é correto".
"Acredito que tudo isto está a falhar não só porque o governo roubou tudo, mas porque nós, russos, não sentimos que o que estamos a fazer é correto", admitiu ao jornal The Guardian.
Há duas semanas, Filatyev publicou 141 páginas onde faz uma descrição diária do que viveu em conjunto com a sua unidade de paraquedistas que foi enviada da Crimeia para a Ucrânia continental. Explica como entraram em Kherson, capturaram o porto marítimo e lidaram com o fogo pesado de artilharia durante mais de um mês perto de Mykolaiv.
Já nessa altura questionava-se sobre a presença das tropas russas no território ucraniano. "Pensava que só estávamos aqui a fazer mal", confessou, ao recordar que se interrogava: "Para que precisamos desta guerra?".
Enquanto estava a lutar, Filatyev pensou para si próprio que se sobrevivesse iria "fazer o que pudesse para impedir" que a invasão continue. Explicou que escreveu as suas memórias porque "não conseguia continuar calado, embora saiba que provavelmente não irá mudar nada" e, provavelmente, apenas terá "problemas".
O soldado espera que a guerra "chegue ao fim após protestos populares", porém disse que esse cenário "parece muito distante". Confessou estar "aterrorizado com o que acontecerá a seguir", visto que acredita que a Rússia "irá lutar pela vitória, apesar do terrível custo".
"Quanto vamos pagar por isso? Quem ficará no nosso país?", perguntas de Filatyev sem resposta perante um conflito cujo fim parece não estar à vista.
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