O conflito que eclodiu em novembro de 2020 entre o governo federal e as autoridades rebeldes nesta província do norte da Etiópia "levou as pessoas em Tigray cada vez mais fundo na fome", com altas taxas de desnutrição infantil, observa o Programa Alimentar Mundial (PAM) no seu último relatório sobre segurança alimentar.
Uma trégua no final de março levou ao fim dos combates, o que permitiu a retoma em abril das colunas de ajuda humanitária após uma interrupção de três meses.
Mas a região continua isolada do resto do país, sem eletricidade, telecomunicações e em grande parte privada de combustível e dinheiro, devido à falta de serviços bancários e à destruição da economia local.
"Numa região onde os alimentos costumam estar disponíveis, (...) 89% dos habitantes viviam em insegurança alimentar em junho de 2022", ou seja, mais seis pontos percentuais do que em novembro de 2021, segundo o PAM, e perto da metade do população (47%) sofria de "grave insegurança alimentar".
Enquanto 80% da população depende da agricultura de subsistência, as colheitas de novembro de 2021 ficaram abaixo da média, observa o PMA.
Além disso, "com o fluxo de envio humanitário e bens comerciais para Tigray a continuar severamente restrito e insuficiente, os preços dos alimentos e itens não alimentares continuam a subir".
O PAM faz referência a diferenças de preços de 70% a 300% para os cereais e de 58% a 99% para o óleo vegetal em relação às regiões vizinhas.
A agência da ONU acrescenta que 85% das famílias dizem que não compram alimentos nos mercados por falta de dinheiro.
Da amostra de 3.000 famílias entrevistadas pelo PAM entre 21 de maio e 05 de junho, 81% disseram ter recebido ajuda humanitária pelo menos uma vez desde o início do conflito.
Mas apenas 8% delas disseram ter recebido ajuda nos últimos três meses, enquanto quase dois terços não a recebiam há mais de um ano.
A chegada de mais de 6.000 camiões de socorro a Mekele, capital regional, entre 01 de abril e o final de julho "ainda não se traduziu num aumento da assistência humanitária, pois persistem outros desafios, como o acesso limitado ao combustível" que restringe as distribuições fora da cidade, sublinha o PAM.
Até 06 de julho, o PAM e os seus parceiros conseguiram distribuir alimentos para cerca de 4,66 milhões de pessoas.
"Mas a escassez de alimentos deverá persistir até novembro", data da próxima colheita anual, "a menos que a distribuição da ajuda humanitária melhore", estima a agência.
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