Seca obriga Zimbabué a transferir 2.500 animais selvagens para o norte

O Zimbabué começou hoje a transferência de mais de 2.500 animais selvagens de uma reserva no sul para outra no norte do país para salvá-los da seca.

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Lusa
01/09/2022 13:10 ‧ 01/09/2022 por Lusa

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Seca

 

Cerca de 400 elefantes, 2.000 impalas, 70 girafas, 50 búfalos, 50 gnus, 50 zebras, 50 elefantes, 10 leões e uma matilha de 10 cães selvagens estão entre os animais que estão a ser transferidos da Save Valley Conservancy do Zimbábue para três locais no norte - Sapi, Matusadonha e Chizarira --- no âmbito de uma das maiores operações de captura e translocação de animais vivos da África Austral, noticiou hoje agência de notícias Associated Press (AP).

Um helicóptero conduz milhares de impalas num recinto, um guindaste eleva elefantes de cabeça para baixo sedados, muitos de guardas florestais conduzem outros animais para gaiolas de metal e uma caravana de camiões inicia um percurso de cerca de 700 quilómetros para levar os animais para o seu novo lar, relata a AP.

O "Projeto Rewild Zambezi", nome dado à operação, está a transferir os animais para uma zona no vale do rio Zambeze, para reconstruir as populações de vida selvagem.

Esta é a primeira vez em 60 anos que o Zimbabué faz um movimento interno em massa de vida selvagem. Entre 1958 e 1964, quando o país era ainda a antiga Rodésia, governada por uma minoria branca, mais de 5.000 animais foram transferidos, no âmbito da que foi então designada "Operação Noé".

Aquela operação teve então por objetivo salvar a vida selvagem do aumento do nível da água causado pela construção de uma enorme barragem hidrelétrica no rio Zambeze, que criou um dos maiores lagos artificiais do mundo, o Lago Kariba.

Desta vez, é a falta de água que obrigou à necessidade de transferência de animais selvagens, pois o seu habitat ficou ressequido pela seca prolongada, disse Tinashe Farawo, porta-voz da Autoridade de Parques Nacionais e Gestão da Vida Selvagem do Zimbabué.

A organização dos parques emitiu licenças para permitir que os animais fossem movidos para evitar que "um desastre acontecesse", sublinhou Farawo.

"Estamos a fazer isso para aliviar a pressão. Durante anos, lutámos contra a caça furtiva e, no momento em que vencemos essa guerra, as mudanças climáticas emergiram como a maior ameaça à nossa vida selvagem", realçou o mesmo responsável, em declarações à Associated Press.

"Muitos de nossos parques estão a ficar superpovoados e há pouca água ou comida. Os animais acabam destruindo o seu próprio habitat, tornam-se um perigo para si mesmos e invadem as localidades vizinhas em busca de comida, o que resulta em conflitos contínuos", acrescentou.

Uma opção seria reduzir o número de animais selvagens, mas os grupos de conservação da natureza protestam, considerando que se trata de uma medida cruel. O último abate no Zimbábue foi em 1987, explicou Farawo.

O Zimbabué não é um caso isolado de um país que sofre os efeitos das mudanças climáticas na sua vida selvagem. Em toda a África, os parques nacionais que abrigam inúmeras espécies de vida selvagem, como leões, elefantes e búfalos, estão cada vez mais ameaçados por chuvas abaixo da média e novos projetos de infraestruturas.

As autoridades e especialistas dizem que a seca ameaçou seriamente espécies como rinocerontes, girafas e antílopes, pois reduz a quantidade dos seus alimentos disponíveis.

Por exemplo, um estudo recente realizado no Parque Nacional Kruger, na África do Sul, faz uma ligação entre eventos climáticos extremos e a perda de plantas e animais, incapazes de lidar com as condições drásticas e a falta de água, devido a períodos de seca mais longos e temperaturas mais quentes.

A transferência em massa dos animais selvagens é apoiada pela Great Plains Foundation, uma organização sem fins lucrativos que trabalha "para conservar e expandir os habitats naturais em África através de iniciativas inovadoras de conservação", segundo o seu site.

A organização está a trabalhar com a Autoridade de Parques Nacionais e Gestão da Vida Selvagem do Zimbabué, especialistas locais, o Centro de Ciência Forense Ambiental da Universidade de Washington-Seattle e o Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, ainda de acordo com a informação da mesma página oficial na internet.

Um dos novos lares para os animais transferidos internamente no Zimbábue é a Reserva Sapi, que fica a leste do Mana Pools National Park, Património Mundial da UNESCO, conhecido pela sua esplêndida localização ao longo do rio Zambeze, que faz fronteira entre o Zimbábue e a Zâmbia.

A Sapi "é a solução perfeita por muitas razões", disse o CEO da Great Plains, Dereck Joubert, no site da fundação.

Leia Também: Seca. Milhares de trutas mortas e retiradas de posto aquícola de Bragança

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