Afinal, o que se passa na central de Zaporíjia (e arredores)?

A primeira visita da AIEA à maior central nuclear da Europa começou esta quinta-feira e não se sabe ao certo quando termina. Quais os pontos essenciais?

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Teresa Banha
01/09/2022 23:40 ‧ 01/09/2022 por Teresa Banha

Mundo

Ucrânia/Rússia

Pouco mais de seis meses após o início da invasão das tropas russas na Ucrânia e de as hipóteses de o mundo assistir a um desastre nuclear aumentarem a cada bombardeamento que ocorre junto das instalações da central nuclear de Zaporíjia (Zaporizhzia), houve 'luz verde' para uma missão ocorrer esta quinta-feira.

O diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e a "melhor e mais brilhante" equipa, do seu ponto de vista, dirigiram-se até à central nuclear de Zaporíjia, na Ucrânia, para avaliar o que se passa nas instalações, que já sofreram várias vezes com os bombardeamentos consequentes do conflito.

Mas, afinal, o que se sabe sobre esta visita e sobre o que se passa nesta central nuclear, que é a maior da Europa? 

"Vamos ter aqui muito trabalho para analisar determinados aspetos técnicos", garante Rafael Grossi, após ter visitado o local, onde ainda permanecem cinco membros da equipa, que deverão ficar na central até ao início da próxima semana. Grossi explicou hoje que a agência terá "uma presença contínua" nas instalações, não sendo ainda conhecido como isto irá ocorrer.

Após vários pedidos por parte da AIEA, ambos os países envolvidos no conflito deram 'luz verde' e a 1.ª visita realizou-se. O que diz a Ucrânia?

"Temos informações de que a Rússia fez muitas coisas para ludibriar [aqueles que estão] na missão da AIEA, incluindo a intimidação dos residentes de Enerhodar [onde ocorrem bombardeamentos]. Os ocupantes [russos] obrigaram as pessoas a mentir aos representantes da AIEA", referiu durante o seu discurso diário esta quinta-feira, após a realização da visita. Volodymyr Zelensky afirmou que a visita foi oportuna, apesar destas "provocações" acima referidas.

O líder ucraniano apontou ainda algumas presenças, para além daqueles que visitaram a central. "Infelizmente, os ocupantes não deixaram os jornalistas entrar, mas organizaram uma multidão com os seus propagandistas", notou, insistindo para que a zona junto à central fosse desmilitarizada.

E lá dentro?

As imagens que foram publicadas ao longo do primeiro dia de visita mostram apenas o exterior do local, e de acordo com o que os responsáveis, a avaliação será demorada - e técnica. Apesar de Kyiv considerar esta visita oportuna, aponta também é preciso que a AIEA tenha uma "visão mais ampla" durante esta averiguação. Na quarta-feira, véspera da visita, o ministro da Energia da Ucrânia disse ter esperanças de que esta missão vá além de uma análise técnica e que possam perceber que tipo de ameaças à segurança da central existem.

"Esperamos que os representantes da AIEA tenham uma visão mais ampla da situação. Por exemplo além das funções puramente técnicas, a missão deve mostrar as ameaças à segurança representadas pela presença de forças armadas em uma instalação nuclear, a presença de armas e equipamentos pesados ​​nos próprios blocos, mineração", afirmou Herman Halushchenko numa entrevista transmitida num canal ucraniano.

"Na verdade, há muitas coisas que precisam ser avaliadas em termos de impacto na segurança nuclear", rematou o responsável, que acrescentou que os resultados desta missão deveriam ser a desocupação da central nuclear por parte das tropas russas, a entrega das instalações aos ucranianos e a desmilitarização da zona à volta da central.

E estragos?

Apesar de terem acontecido vários bombardeamentos e ameaças ao longo das últimas semanas, só nesta semana houve duas situações que levantaram preocupações.

Uma delas foi uma publicação da Maxar Technologies, na segunda-feira, na qual se via que havia uma parte do telhado da central que estava danificado.

Um dos reatores da central desligou-se, esta quinta-feira, devido a bombardeamentos que ocorreram nas últimas 24 horas junto à central. De recordar que a central esteve, na semana passada, desligada da rede elétrica da Ucrânia - e que há especialistas que apontam que as tropas russas, que ocupam o local, querem conectar a central à Crimeia, que foi anexada pela Rússia em 2014.

E as pessoas na zona - para além dos militares?

À CNN, uma funcionária da central disse que se sentia uma refém, e acrescentou que não estava convencida de que esta missão ia servir para a AIEA perceber o panorama geral. A trabalhadora explicou, no entanto, que esperava "que eles vissem todos os soldados [russos], equipamento, helicópteros e os estragos causados pelos seus bombardeamentos".

Também uma jornalista partilhou, na semana passada, um vídeo no qual se veem residentes de Enerhodar, onde fica a central, e onde houve bombardeamentos no último dia, e no qual alguns residentes falam sobre a situação. "Residentes de Enerhodar gravaram este pedido desesperado ao presidente da Ucrânia para libertar a cidade [das tropas russas]. Falam sobre os funcionários da central como reféns, os bombardeamentos, raptos, roubos. Tiveram que tapar as caras por uma questão de segurança", escreve.

Leia Também: Em Kyiv, Duarte Pacheco disponibiliza União Interparlamentar para diálogo

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