O Papa Francisco descreveu, em entrevista à TVI/CNN Portugal, os abusos na Igreja Católica como “uma monstruosidade” e um "ato diabólico" que “não pode continuar”.
“Quero ser muito claro com isto. O abuso de homens e mulheres na Igreja - abuso de autoridade, abuso de poder e abuso sexual - é uma monstruosidade, porque o homem ou mulher da Igreja, quer seja padre, religioso ou religiosa, ou laico, ou laica, foi chamado a ser e a criar unidade, a contribuir para o crescimento e o abuso destrói sempre”, começou por referir o pontífice, quando questionado sobre a temática.
Considerando que o “abuso é uma realidade trágica de todos os tempos”, Francisco sublinhou que “ainda bem” que os casos começaram a ser denunciados, mas ressalvou que existem muitos casos de "abuso dentro da família".
"Quando falamos de abuso, eu diria que é preciso ter esta visão de conjunto, segundo, procurar que não se escondam as coisas, porque nalguns setores, como na família, tende-se a ocultar, e, terceiro, agarremos [Igreja] na percentagem que nos diz respeito e vamos ao combate", disse.
Na primeira parte da entrevista divulgada hoje, sendo o restante na segunda-feira, Francisco não negou os abusos sexuais na Igreja Católica.
"Não nego os abusos. Mesmo que fosse um só, é monstruoso, porque o padre e a freira têm de conduzir o menino, a menina a Deus e, ao fazerem isso, destroem-lhes a vida", disse.
O Papa sublinhou que os abusos sexuais de crianças destroem vidas e negou que estejam relacionados com celibato na Igreja.
"O abuso é uma coisa destrutiva. Humanamente diabólica. Porque nas famílias não há celibato e também ocorre. Portanto é simplesmente a monstruosidade de um homem ou de uma mulher da Igreja, que está doente em termos psicológicos ou é malvado e usa a sua posição para sua satisfação pessoal. É diabólico", frisou.
Francisco considerou ainda que é necessário ter "tolerância zero" nos casos de abuso sexual na Igreja e frisou que "um sacerdote não pode continuar a ser sacerdote se é abusador".
“Um sacerdote não pode continuar a ser sacerdote se é abusador. Não pode. Porque é doente ou um criminoso, não sei. O sacerdote existe para encaminhar os homens para Deus e não para destruir os homens em nome de Deus. Tolerância zero. E tem de continuar a ser assim”, destacou.
Numa das promoções da entrevista divulgada pela TVI e CNN, o Papa abordou também a sua presença na Jornada Mundial da Juventude, no próximo ano em Portugal: "Eu penso ir. Vai Francisco ou João XXIV. Mas o Papa vai", afirmou entre risos.
Durante a entrevista foi pedido ao Papa uma palavra que "ponha luz e reconciliação no caminho da Igreja portuguesa, que neste momento vive um momento muito difícil, até às Jornada da Juventude", ao que respondeu: "Olhem para a janela e perguntem se a tua vida tem uma janela aberta. Se não tiverem, abram-na o quanto antes. Não tenham vistas curtas. Saibam que estamos a caminhar para o futuro e que há um caminho. Não se fechem".
"Não se pode viver sem esperança, não se pode viver sem esse ímpeto positivo da esperança", disse.
O Papa afirmou ainda que o conselho que dá à Igreja portuguesa para se preparar para a Jornada Mundial da Juventude, que se realiza em agosto de 2023 em Portugal, é que "abra a janela".
"Vejam além do nariz. Olhem, abram, olhem para o horizonte. E alarguem o coração", realçou.
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