Itália. Extrema-direita de Meloni continua a avançar nas sondagens
A três semanas das eleições legislativas em Itália, as sondagens anteveem uma vitória quase certa do centro-direita e um forte desempenho dos Irmãos de Itália, de Giorgia Meloni, mas analistas ouvidos pela Lusa optam pela prudência face as projeções.
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Mundo Itália
As últimas sondagens realizadas pela Euromedia Research, uma das empresas de sondagens mais importantes de Itália, indicam que os Irmãos de Itália (FdI), o partido de extrema-direita liderado por Giorgia Meloni, continua a sua ascensão e, se as eleições legislativas antecipadas fossem agora realizadas (estão agendadas para o próximo dia 25 de setembro), a força política conseguiria 24,6% dos votos.
Logo de seguida surge o Partido Democrático (PD, centro-esquerda), do ex-primeiro-ministro italiano Enrico Letta, com 23,1%.
A Liga (também de extrema-direita e liderada pelo controverso ex-vice-primeiro-ministro e ex-ministro do Interior Matteo Salvini) e o Movimento 5 Estrelas (M5S, anti-sistema) surgem lado a lado nas últimas sondagens: o primeiro arrecada 12,5% das intenções de voto, enquanto o segundo regista 12,3%, um aumento em relação às semanas anteriores.
A Força Itália (centro-direita), do magnata dos 'media' e ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, regista 7% das intenções de voto.
"Além dos votos nos partidos individuais, a lei eleitoral italiana favorece as coligações e é esse o facto que devemos, em primeiro lugar, ter em consideração. Até hoje vemos que a coligação do centro-direita formada pelo FdI, Liga e Força Itália (FI) teria 46,1% dos votos contra 28,7% do centro-esquerda", disse à Lusa Alessandra Ghisleri, diretora da Euromedia Research.
Os analistas ouvidos pela Lusa alertam, no entanto, que os números de hoje são dados que podem mudar por qualquer razão.
"A História ensina-nos que as sondagens são importantes, mas ainda são um retrato da situação naquele exato momento. É como quando olhamos para uma fotografia, não sabemos o que acontecerá no momento seguinte", afirmou, também em declarações à Lusa, Tommaso Labate, jornalista político do jornal italiano Corriere della Sera.
Segundo Labate, a Europa já testemunhou em outras eleições resultados que estavam longe dos cenários traçados pelas sondagens, como foi o caso da derrota de José María Aznar em Espanha em 2004 após o atentado terrorista na estação de comboios de Atocha ou na Alemanha após as inundações de 2002.
"[O chanceler] Gerard Schroeder estava em desvantagem, mas aconteceram as inundações e o seu carisma e participação na gestão da emergência levaram-no à reeleição", lembrou Labate.
Na opinião de Paolo Cirino Pomicino, ex-ministro italiano do planeamento económico na década de 1980, parlamentar durante 20 anos e um profundo conhecedor da política italiana, a direita terá "uma maioria estável no parlamento".
"Não está excluído que o centro-direita poderá ter um número de parlamentares alto, até dois terços do parlamento, para poder mudar a Constituição sem a necessidade do apoio de outros partidos e sem fazer um referendo sobre as mudanças", referiu o político italiano.
No que diz respeito ao próximo primeiro-ministro do país, que segundo a Constituição italiana é nomeado pelo Presidente da República, o pacto do centro-direita prevê que tal responsabilidade seja do líder do partido mais votado, até hoje Giorgia Meloni.
Um resultado que, segundo Salvini, não é dado como certo.
"Aguardo o voto dos italianos antes de fazer qualquer comentário. Depois o Presidente da República vai escolher. Eu também estou a competir", declarou o líder da Liga.
Uma questão a ter em conta, segundo os analistas, é a abstenção.
"Hoje, os italianos que admitem abster-se no próximo dia 25 rondam os 33% e os 35%, o que produz um número de eleitores [taxa de participação] entre os 65% e os 67%", indicou Alessandra Ghisleri, da Euromedia Research.
A especialista recordou que estes valores estão abaixo dos números das eleições de 2018, quando 73% dos italianos votaram.
"Ainda faltam cerca de 20 dias para recuperar o atraso. Os partidos terão de ser bons a convencer os eleitores a aderirem aos seus programas", adiantou Ghisleri.
Segundo especialistas, o jogo decisivo é disputado nas últimas duas semanas antes da votação.
Nessas duas semanas, as sondagens não podem ser divulgadas.
"Nas primeiras semanas da campanha eleitoral, como acontece no pugilismo, os adversários estudam-se e é só nos minutos finais da partida que os golpes mais fortes são desferidos, então é provável que as pessoas que hoje afirmam estar entediadas, dececionadas com esta campanha, na reta final decidam ir votar", afirmou Tommaso Labate.
Captar a atenção do eleitorado mais jovem está a ser uma prioridade para alguns partidos e alguns políticos aderiram à popular rede social Tik Tok.
Foi o caso de Berlusconi e do também ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, do Italia Viva, que publicaram recentemente vídeos nesta rede social.
Porém, as reações negativas não tardaram e uma reconhecida 'influencer' e humorista italiana de 19 anos apontou fortes críticas aos políticos.
"Pensam que somos maleáveis e estúpidos. Como se bastasse um vídeo com letras e músicas cativantes para votar nos vossos partidos. (...) Se querem entreter-nos tudo bem, mas não perca tempo porque podem fazer muito mais", reagiu a humorista.
Relativamente às questões abordadas na campanha eleitoral, todos os especialistas sublinham que as propostas são muito genéricas e, sobretudo, não têm viabilidade orçamental.
"Todos afirmam querer reduzir impostos e fazer uma transição ecológica, mas ninguém explica como. De onde tiram o dinheiro? Alguns deles têm medidas no programa que custam muito e para as quais não há cobertura orçamental", adiantou Paolo Cirino Pomicino.
Um dos fatores destas legislativas antecipadas que é identificado de forma unânime pelos analistas ouvidos pela Lusa é que os receios dos italianos neste período de incerteza vão pesar no dia da votação.
"Os italianos vão votar pensando também nas dificuldades destes meses, nas despesas, nas contas de eletricidade cada vez mais caras, a relação com uma recuperação económica que os assusta muito pelas repercussões que pode ter a nível familiar", adiantou Ghisleri.
Segundo os analistas, não é por acaso que o M5S, liderado pelo ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte, está a recuperar nas sondagens.
"A campanha eleitoral de Conte é baseada no eleitorado que tem muito em consideração a pobreza, a distribuição e a extensão dos rendimentos dos cidadãos, a relação da política com a pobreza, com o sul de Itália, num conflito importante com o Governo em exercício", concluiu Ghisleri.
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