"Esta reunião é uma tentativa transparente para nos distrair da reunião de ontem (quarta-feira) do Conselho de Segurança, sobre as denúncias de deslocamento forçado de cidadãos ucranianos, presentes num relatório da ONU sobre casos de tortura em campos de filtragem", disse o representante adjunto dos Estados Unidos da América (EUA) na ONU, Richard Mills, numa reunião convocada pela Rússia.
Em causa está o facto de o embaixador russo junto à ONU, Vassily Nebenzya, ter solicitado uma reunião naquele órgão da ONU, na noite de quarta-feira, sobre o fornecimento de armas ocidentais para a Ucrânia.
O pedido surgiu apenas algumas horas após a ONU ter alertado para as persistentes alegações de deslocamento forçado, deportação e para os chamados "campos de filtragem" administrados pela Rússia face a cidadãos ucranianos e pediu que as denúncias sejam investigadas.
"Somos a favor de falar de problemas reais, não fictícios. E como perdemos tempo nesta quarta-feira a discutir mais uma especulação e fantasia, propomos discutir na quinta-feira a real ameaça à paz e segurança internacionais gerada pelo fornecimento de armas e produtos militares por Estados estrangeiros para a Ucrânia", disse Nebenzya, na sequência do pedido da reunião.
Já na reunião de hoje, a terceira que se realiza esta semana sobre a Ucrânia, Nebenzya acusou o ocidente de "cinismo", por pedir que a Rússia trave a guerra, mas continuar a fornecer armas à Ucrânia.
O embaixador russo voltou ainda a acusar "oficiais corruptos ucranianos de estabelecer ligações ou canais para fornecer ao mercado negro armas fabricadas no ocidente".
Por sua vez, Richard Mills afirmou que os EUA estão orgulhosos de prestar assistência à Ucrânia, enquanto o país "defende as suas vidas, liberdade e democracia".
"A Ucrânia tem todo o direito de se defender e não vamos suspender a ajuda só porque a Rússia está frustrada. (...) Encorajo cada membro deste Conselho a considerar esta pergunta: 'se tivessem no lugar na Ucrânia, como responderiam se uma nação maior invadisse o vosso país? O que pediram à comunidade internacional?' Iriam pedir apoio. (...) Os EUA não procuram uma guerra contra a Rússia, mas não vamos deixar de apoiar a Ucrânia", assegurou o diplomata norte-americano
"Além disso, Moscovo está no processo de comprar milhões de 'rockets' e projeteis de artilharia da Coreia do Norte para uso no campo de batalha da Ucrânia, o que seria uma clara e inequívoca violação das resoluções do Conselho de Segurança", alertou ainda o embaixador.
Posição semelhante foi defendida pelo Reino Unido, com a embaixadora Barbara Woodward a advogar que a "Rússia está a ter dificuldades em manter os estoques de equipamentos militares, exacerbadas pela escassez de componentes resultante de sanções internacionais que visam acabar com a guerra", pelo que Moscovo "está a virar-se" para a Coreia do Norte e para o Irão para obter equipamento militar.
De acordo com detalhes de inteligência norte-americana desclassificados, a Rússia está a comprar milhões de projéteis de artilharia e 'rockets' da Coreia do Norte, num sinal de que as sanções globais restringiram severamente as suas cadeias de suprimentos e forçaram Moscovo a recorrer a outros Estados para suprimentos militares.
A ofensiva militar lançada em 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa - justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que entrou hoje no seu 195.º dia, 5.718 civis mortos e 8.199 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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