No seu discurso na 77.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, que está a decorrer em Nova Iorque, Estados Unidos, Ebrahim Raisi rejeitou "os duplos padrões de alguns governos relativamente a direitos das mulheres e a direitos humanos".
As declarações foram feitas numa altura que o país árabe se confronta, há cinco dias, com violentas manifestações contra a chamada 'polícia de costumes' na sequência da morte de uma jovem de 22 anos detida por usar mal o véu islâmico ('hijab').
Tanto as Nações Unidas como vários países ocidentais sublinharam estar preocupados com o caso e a forma violenta como as manifestações têm sido reprimidas pelas autoridades de Teerão.
O líder iraniano aproveitou também o seu discurso na ONU para garantir que o país vai continuar "a procurar justiça" para o assassinato do general Qassem Soleimani, morto em 2020, num ataque com um drone norte-americano.
"O anterior Presidente dos EUA [Donald Trump] assinou a autorização para o crime selvagem", mas a "procura de justiça não será abandonada", afirmou, acrescentando querer que seja realizado "um julgamento justo".
Num apelo implícito à união de todos os Estados da região, nomeadamente à Arábia Saudita, potência regional aliada dos norte-americanos, Ebrahim Raisi sublinhou que Trump disse terem sido os Estados Unidos que criaram o grupo terrorista Estado Islâmico para "criar o caos" na região.
"Acreditamos firmemente que, para enfrentar injustiças, temos de ser coesos", disse, adiantando que "qualquer ação de opressão constitui uma ameaça para todo o mundo".
A opressão foi, aliás, uma palavra-chave do discurso do Presidente iraniano que também criticou os Estados Unidos por terem abandonado o acordo sobre a política nuclear do Irão, assinado em 2015.
"Quando a América abandonou o acordo do nuclear vimos uma nova face dos crimes contra a humanidade", disse.
Segundo o líder iraniano, esse foi mais um episódio que ensinou o Irão a não confiar em ninguém.
"O Irão aprendeu a não confiar em ninguém. A lição foi aprendida durante as duas guerras mundiais, quando o Irão declarou a sua neutralidade, mas, nos dois casos, foi objeto de ocupações estrangeiras. Depois, nos anos 50, quando confiou na América para alcançar o sonho de nacionalizar o petróleo, foi traído também. [Mais recentemente], depois de o acordo sobre o nuclear ter sido assinado e aceite no Conselho de Segurança das Nações Unidas, viu que esse acordo foi contornado unilateralmente", enumerou Raisi.
A semana de discussões de alto nível da Assembleia Geral das Nações Unidas começou na terça-feira, na sede da ONU em Nova Iorque, e irá prolongar-se até à próxima segunda-feira, com a presença de dezenas de chefes de Estado e de Governo.
Esta é a primeira Assembleia Geral desde o início da guerra na Ucrânia e a primeira em formato presencial desde o início da pandemia de covid-19.
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