Apesar dos apelos internacionais para acabar com o uso da força contra os manifestantes, o governo iraniano tem-se mantido firme perante os protestos, acusando os participantes de serem "desordeiros" e de "minarem a segurança e o património público".
Segundo o último relatório divulgado esta terça-feira pela agência de notícias iraniana Fars, "cerca de 60 pessoas morreram" desde o início das manifestações em 16 de setembro.
A polícia, citada pela agência de notícias oficial Irna, referiu que 10 policias morreram, mas não ficou claro se estes estavam entre os 60 mortos.
A organização não-governamental (ONG) Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, registou na segunda-feira à noite "pelo menos 76 mortos", incluindo "seis mulheres e quatro crianças".
A IHR revelou que obteve também "vídeos e certidões de óbito a confirmar disparos de munição real contra manifestantes".
Os protestos acontecem todas as noites desde 16 de setembro, quando a iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, morreu no hospital, três dias depois de ser presa em Teerão por violar um código de vestuário rígido para mulheres na República Islâmica do Irão, que devem cobrir os seus cabelos em público.
De acordo com os 'media' da oposição, sedeada fora do Irão, os protestos foram retomados esta terça-feira à noite em várias cidades.
Ativistas têm alertado que as interrupções nas ligações de Internet estão a dificultar cada vez mais a transmissão das imagens.
Num vídeo partilhado 'online' pelo canal de televisão da oposição Manoto, uma mulher é mostrada sem lenço na cabeça e a agitar os braços, no distrito de Narmak, em Teerão.
Em Sanandaj, capital da província do Curdistão, no noroeste, de onde era natural Mahsa Amini, mulheres são vistas a tirarem os seus lenços, enquanto em Shiraz, no sul, um homem queima uma imagem com uma foto do líder supremo iraniano Ali Khamenei, segundo noticiou a Iran International TV, com sede em Londres.
Para limitar os protestos, as autoridades bloquearam o acesso a redes sociais como o Instagram e WhatsApp no Irão e as ligações à Internet têm sido interrompidas.
As mulheres estão na vanguarda dos protestos no Irão e, desde o início das manifestações, têm sido vistas em vários vídeos divulgados por ONG ou ativistas a tirar os véus, a subirem para cima de carros ou a dançarem.
Outros vídeos nos últimos dias mostraram policias a baterem em manifestantes com cassetetes e estudantes a rasgarem grandes imagens do líder supremo do Irão, Ali Khamenei, e de seu antecessor, Imam Khomeini, fundador da República Islâmica.
De acordo com os defensores dos direitos humanos, a polícia também disparou balas e munição real contra os manifestantes que atiraram pedras, incendiaram carros da polícia e incendiaram prédios públicos.
Na terça-feira, o ministro da Saúde, Bahram Einollahi, acusou os manifestantes de destruírem 72 ambulâncias.
A oposição no exílio acusa as autoridades de usarem ambulâncias para transportar forças de segurança.
As autoridades iranianas relataram esta terça-feira que detiveram mais de 1.200 pessoas, a maioria no norte do Irão, desde o início dos protestos, denunciando também "influência estrangeira" na origem dos protestos.
Países ocidentais, a ONU e ONG internacionais têm apelado ao Irão para que termine com a repressão.
Os protestos são os maiores desde novembro de 2019, causados pelo aumento dos preços da gasolina no Irão e que foram severamente reprimidos, resultando em 230 mortos segundo um relatório oficial e mais de 300 segundo a Amnistia Internacional.
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