"Eles prenderam-me. Estou numa prisão em Teerão. Por favor, ajudem-me...", disse no domingo Alessia Piperno numa breve conversa telefónica com os pais, reporta hoje o diário italiano Il Messagero.
"Estou bem, mas há pessoas aqui que dizem que estão aqui há meses e sem motivo nenhum. Tenho medo de não sair mais, ajudem-me", contou Piperno, após quatro dias sem dar notícias aos pais, que vivem em Roma.
Segundo o jornal, a jovem, que viaja pelo mundo há seis anos, foi detida quarta-feira passada, dia do seu 30.º aniversário.
O pai de Piperno referiu que, no último contacto telefónico, a filha disse que tinha planeado um piquenique para celebrar o aniversário com amigos franceses, polacos e iranianos.
Contactado pela agência noticiosa France-Presse (AFP), o Ministério dos Negócios Estrangeiros italiano não confirmou a identidade da cidadã italiana.
"Esperamos que o Ministério dos Negócios Estrangeiros italiano faça tudo o que for possível para obter a libertação de Alessia Piperno", escreveu a organização não-governamental Amnistia Internacional (AI) na rede social Twitter.
Na conta que a jovem italiana tem noutra rede social, o Instagram, seguida por quase 16.000 pessoas, podem ver-se fotografias de Piperno em várias partes do mundo, incluindo as mais recentes tiradas no Irão, onde se encontrava há cerca de dois meses.
Nas publicações nas redes sociais, Piperno aparenta apoiar as manifestações que estão a alastrar-se por várias cidades do Irão, desencadeadas na sequência da morte, a 16 de setembro, de uma jovem de 22 anos sob custódia da polícia da moralidade, que fora detida três dias antes por uso incorreto do "hijab", o véu islâmico para tapar a cabeça.
"Tanta gente já perdeu a vida, tanta gente que nunca irá ver essa liberdade e que arriscou e lutou. Mas, se um dia este país [Irão] se libertar, é graças a essas pessoas, essas mulheres que saem à rua e queimam o 'hijab' (...)", escreveu Piperno num texto publicado na semana passada.
Sexta-feira, as autoridades iranianas anunciaram a detenção de nove estrangeiros, nomeadamente da Polónia, Itália e França, em ligação, segundo Teerão, ao vasto movimento de protesto desencadeado pela morte de Mahsa Amini.
A repressão ao movimento deixou pelo menos 92 mortos, segundo a organização não-governamental Iran Human Rights (IHR).
As manifestações continuaram domingo em praticamente todas as cidades do Irão, ao mesmo tempo que, em vários países se organizaram ações de protesto contra a polícia e mortalidade e em solidariedade com o movimento de apoio às mulheres iranianas, o mais importante no país desde 2019.
"Esses tumultos foram planeados. Digo claramente que esses tumultos e protestos que causaram insegurança foram planeados pelos Estados Unidos e pelo regime sionista e os seus funcionários [Israel]. Tais ações não são normais, não são naturais", disse Khamenei a um grupo de estudantes da academia de polícia em Teerão.
À repressão protagonizada pela polícia da moralidade juntam-se as queixas da população em relação ao aumento significativo das restrições sociais e do desemprego, bem como à subida dos preços dos bens de primeira necessidade.
As manifestações continuam na capital, Teerão, e em várias províncias, apesar de as autoridades terem restringido o acesso à Internet e bloqueado aplicações como o Whatsapp e o Instagram no país.
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