"Considero que a primeira reação da América Latina foi heterogénea e errática, não sabendo bem como se alinhar" diante da invasão da Rússia da vizinha Ucrânia, afirmou o argentino Pablo Touzon, especialista em relações internacionais, à margem dos Encontros Ibero-Americanos, em Lisboa.
"Penso que com o decorrer dos meses, percebemos que dois eixos foram-se formando, um que podemos classificar como 'bolivariano', no qual se pode incluir Cuba, Venezuela e Nicarágua", declarou Touzon, fundador e editor da revista digital sobre política e cultura "Panamá".
Para Touzon, "estes três países, por um alinhamento de base anti-Estados Unidos e devido às relações mais próximas da Rússia, em comparação aos demais países da América Latina, colocaram-se ao lado de [Presidente da Rússia, Vladimir] Putin".
"O resto dos países, mesmo que tardiamente, foram alinhando-se contra a guerra na Ucrânia, apesar da heterogeneidade dos apoios, nomeadamente em relação os posicionamentos de [Presidente do Brasil] Jair Bolsonaro e de [Presidente do Chile] Gabriel Boric", referiu.
Jair Bolsonaro, no seu discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas em setembro passado, pediu um cessar-fogo imediato na guerra da Ucrânia, mas afirmou ser contra o isolamento de países -- os ucranianos pediram o isolamento internacional da Rússia -- e mostrou-se contrário às sanções económicas impostas aos russos pelos países ocidentais.
Gabriel Boric, também numa intervenção na mesma Assembleia-Geral da ONU, pediu para que todas as medidas necessárias fossem tomadas para "parar a guerra injusta da Rússia contra a Ucrânia".
"Houve também um certo compasso de espera, após a invasão da Ucrânia, para determinar qual seria o posicionamento dos Estados Unidos e, a partir disso, os apoios cristalizaram-se", afirmou ainda Touzon.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,5 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
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