Perante o anúncio de que a Rússia retomará a sua participação no acordo sobre as exportações de cereais ucranianos no Mar Negro, o conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak, equacionou que a decisão de Moscovo se deveu ao facto de o Kremlin ter percebido que o acordo funcionaria sem o seu envolvimento.
Em declarações à agência Reuters, Mykhailo Podolyak considerou que esta tomada de posição comprovou que a “chantagem” e a “escalada e ameaças” russas falham quando enfrentam respostas fortes e assertivas.
"De uma forma ou de outra, a Rússia, envergonhada, voltou à ‘Iniciativa do Mar Negro’ porque, de repente, descobriu que o corredor funcionaria mesmo sem a participação do Kremlin", disse Podolyak, citado pelo mesmo meio.
"Isso diz apenas uma coisa: a Rússia é sempre inferior aos mais fortes, aos que sabem dar um golpe, aos que defendem fortemente a sua posição", rematou.
What lesson should Western leaders learn from grain "Ottoman diplomacy"? A "blackmailer" with Russian roots is inferior to those who are stronger and know how to clearly state their position. The way to "pacify" the aggressor lies through a reasonable demonstration of force.
— Михайло Подоляк (@Podolyak_M) November 2, 2022
Já na sua página da rede social Twitter, o conselheiro reforçou que a “lição” que os líderes ocidentais devem reter da “diplomacia otomana” passa pelo facto de que a chantagem russa “é inferior àqueles que são mais fortes e que sabem esclarecer a sua posição”.
“A forma de ‘pacificar’ o agressor recai numa demonstração razoável de força”, assinalou.
Recorde-se de que a Rússia anunciou, esta quarta-feira, que retomará a sua participação no acordo sobre as exportações de cereais ucranianos após receber "garantias escritas" da Ucrânia sobre a desmilitarização do corredor utilizado para o seu transporte.
Moscovo tinha suspendido a sua participação na chamada ‘Iniciativa do Mar Negro’ no sábado, 29 de outubro, após um ataque à sua frota na Crimeia, a península ucraniana que anexou em 2014.
De notar que a iniciativa resulta de acordos assinados pelos dois países com a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Turquia, em Istambul, em 22 de julho, para permitir escoar milhões de toneladas de cereais retidos em portos ucranianos pela guerra desencadeada pela invasão russa, a 24 de fevereiro deste ano.
A ofensiva russa - justificada pelo presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.430 civis mortos e 9.865 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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