O vice-presidente do Brasil reiterou que aceitava o resultado das eleições presidenciais que, no domingo, deram a derrota a Jair Bolsonaro, com 49,10% dos votos.
"Nós concordamos em participar de um jogo em que o outro jogador [Lula] não deveria estar jogando. Mas se a gente concordou, não há mais do que reclamar. A partir daí, não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo", afirmou Hamilton Mourão ao jornal o Globo numa entrevista publicada esta quarta-feira.
Questionado sobre se concordava com o silêncio feito pelo presidente do Brasil, que só falou à nação um dia e meio após os resultados serem conhecidos, Mourão foi perentório: "Cada um reage aos acontecimentos da sua maneira. Ele está reagindo à maneira dele. Ele procurou a melhor forma de falar tudo o que queria falar sem incorrer em ofensas, ilegalidades".
"[Bolsonaro] é um sujeito mais incisivo, mais verborrágico, e eu não sou. Minha forma de fazer as coisas é outra"
O responsável enviou, de acordo com o mesmo jornal enviou uma mensagem, na segunda-feira ao seu sucessor - antes de Bolsonaro falar, na terça-feira - na qual reconheceu a derrota e abriu as portas do Palácio de Jaburu, a sua residência oficial, a Geraldo Alckmin e à esposa para que conhecessem o local.
Quanto à relação construída com o atual presidente, que deixa o cargo a 1 de janeiro de 2023, o n.º 2 do executivo brasileiro não escondeu que ele e Jair Bolsonaro tinham as suas diferenças. "Nunca briguei com ele publicamente. Reclamava de mim. É aquela história, eu tenho noção, né? No atacado nós temos o mesmo pensamento, mas a forma de fazer as coisas é outra", referiu.
Mourão, que foi eleito senador neste ato eleitoral, não deixou de especificar quais as diferenças com o seu aliado. "[Bolsonaro] é um sujeito mais incisivo, mais verborrágico, e eu não sou. Minha forma de fazer as coisas é outra", apontou, lembrando que o atual chefe do executivo brasileiro "sempre foi deputado" e que se nesse órgão alguém não se destaca, "é engolido". "E o papel do Bolsonaro era meter o dedo nos outros. E ele continua fazendo esse papel. E eu nunca fui disso, eu passei dessa fase na minha vida", garantiu.
Apesar das diferenças, o senador eleito juro que nunca se "stressou" com Bolsonaro ao ponto de perder o sono. "Eu tomo uísque todo dia antes de dormir, então não perco o sono", brincou.
Quanto ao momento em que Bolsonaro quebrou o silêncio e falou, na terça-feira, Mourão explicou que o achou sereno, mas confessa: "Não acusou o processo eleitoral, da forma que eu achei que acusaria, não acusou o opositor. Já está estendida a ponte para que a transição seja executada, pelo Ciro Nogueira e quem for de direito da chapa do Lula".
O vice-presidente é um apêndice"
Ainda quando ao tempo em que assumiu o cargo de 'vice' do Brasil, Mourão confessou que se arrepende de não ter guardado algumas opiniões para si. "Não lembro aqui de cabeça [quais]. Mas eu teria falado menos", asseverou.
Quanto ao papel dos 'vices', Mourão reconheceu que este pode ser "frustrante". "O que aprendi é que você tem que entender qual o papel do vice-presidente. A Constituição diz que o executivo é exercido pelo presidente e seus ministros. O vice-presidente é um apêndice", defendeu, acrescentando que essa era uma sensação de que as pessoas que assumem o papel "só são conta" quando estão no cargo.
Questionado sobre se isso seria frustrante, generalizou: "Acho que todos [os vices] se frustraram. Nos Estados Unidos, na Argentina, no Uruguai, o vice-presidente é também presidente do Senado. Acho que é uma mudança que seria boa aqui".
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