"Vamos analisar os detalhes, mas este é um primeiro passo muito bem-vindo que esperamos possa começar a trazer conforto a milhões de civis etíopes que sofreram em resultado deste conflito", afirmou o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.
As declarações surgem na sequência das conversações de paz em Pretória, na África do Sul, em que o Governo etíope e os rebeldes da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês) concordaram com uma "cessação das hostilidades" na região norte da Etiópia.
A reunião de "alto nível" decorreu sob os auspícios da União Africana (UA), com a presença do ex-presidente queniano Uhuru Kenyatta e o ex-presidente adjunto sul-africano Phumzile Mlambo-Ngcuka, bem como representantes da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), das Nações Unidas e dos Estados Unidos da América.
A guerra, que cumpre dois anos na sexta-feira, registou abusos de ambos os lados.
Uma questão crítica é saber quando poderá a ajuda regressar ao Tigray, com seis milhões de habitantes, numa grave crise humanitária. Ainda hoje, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus - natural desta região - afirmou que o Tigray vive "a pior crise humanitária do mundo", e está sem ajuda humanitária há dois meses.
O conflito deixou a região isolada, com comunicações e ligações de transporte em grande parte cortadas.
Até meio milhão de pessoas foram mortas, de acordo com a ONU. Mais de dois milhões de etíopes foram deslocados e centenas de milhares foram mergulhados em condições de quase inanição.
A guerra intensificou-se nas últimas semanas depois de novos combates terem eclodido em agosto, após uma trégua humanitária de cinco meses acordada entre as partes.
O conflito em Tigray estalou em 04 de novembro de 2020 após um ataque da TPLF à base principal do exército em Mekelle, na sequência do qual o Governo de Abiy Ahmed ordenou uma ofensiva contra o grupo após meses de tensões políticas e administrativas.
A TPLF acusa Abiy de alimentar tensões desde que chegou ao poder em abril de 2018, quando se tornou o primeiro oromo a tomar posse.
Até então, a TPLF tinha sido a força dominante no seio da coligação governante da Etiópia desde 1991, a Frente Democrática Revolucionária Popular Etíope (EPRDF), de base étnica.
O grupo opôs-se às reformas de Abiy, que considerou como uma tentativa de minar a sua influência.
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