Ao fim de 14 anos no poder no país (1996-1999 e 2009-2021), prepara-se para voltar à chefia do Governo após as eleições legislativas de 01 de novembro, que deram ao seu partido, o Likud, coligado com partidos ultraortodoxos e uma aliança de extrema-direita, a maioria absoluta no Knesset (parlamento) de 120 lugares, com 64 assentos parlamentares.
Na campanha para o escrutínio, o quinto em três anos e meio, Netanyahu obteve, como é habitual, a unanimidade num ponto: a sua incansável energia ao serviço da vontade de governar.
Aos 73 anos, este homem tão venerado como odiado percorreu o país num "Bibimobile", um camião totalmente envidraçado e blindado, inspirado no veículo do Papa.
Pela primeira vez desde 2009, Netanyahu não se candidatava como primeiro-ministro cessante, depois de ter sido, em junho de 2021, destronado por uma coligação de partidos de todas as tendências formada pelo centrista Yaïr Lapid com o objetivo assumido de o retirar do poder.
Político hábil, negociador duro e líder carismático, Netanyahu é o sustentáculo de um bloco de direita que está a ganhar cada vez mais eleitores e que, no último escrutínio, possibilitou a entrada no Knesset de partidos extremistas, abertamente racistas e homofóbicos, com os quais o "Rei Bibi" não tem quaisquer escrúpulos em negociar.
A sua campanha para estas legislativas centrou-se em apresentar-se como o único candidato com capacidade para dirigir um país com múltiplos desafios em matéria de segurança: lidar com a crescente violência com os palestinianos, a perpétua ameaça do Irão e as tensões com o grupo xiita libanês Hezbollah.
Segundo o seu antigo porta-voz Aviv Bushinsky, profundo conhecedor do Likud, Netanyahu nunca se afastará por vontade própria.
"Ele fará tudo o que for possível para formar uma coligação, mesmo as coisas mais loucas", disse Bushinsky, acrescentando: "Ele pensa que recebeu uma missão de Deus para salvar o país".
Apesar do seu indiciamento por corrupção numa série de casos -- acusações que ele rejeita -- "Bibi" conta com um grupo inabalável de apoiantes".
Não só tem a clara convicção de ser o político mais qualificado para liderar Israel, como um dos principais motivos pelos quais queria recuperar o cargo de primeiro-ministro era controlar, com os recursos que o lugar lhe fornece, o seu julgamento em curso por corrupção, que poderá conduzi-lo à prisão.
Fraude, suborno e abuso de confiança, em três casos diferentes, avançam lentamente numa Justiça que tanto ele como os seus fiéis aliados da direita atacam despudoradamente, e cuja ação poderá ver-se limitada num parlamento favorável a Netanyahu.
De voz rouca e cabelo grisalho inamovível, Benjamin Netanyahu, pai de uma filha e dois filhos, é profundamente marcado pelo legado da direita israelita.
Nascido em Telavive a 21 de outubro de 1949, herdou essa forte bagagem ideológica do pai, Benzion, ex-assistente de Zeev Jabotinsky, líder da tendência sionista chamada "revisionista", favorável ao "Grande Israel" (termo que define a aspiração de um povo a completar a própria unidade territorial nacional anexando terras dominadas por estrangeiros para restaurar os limites históricos e bíblicos da Terra de Israel).
Contra o processo de paz israelo-palestiniano dos anos 1990 (Acordos de Paz de Oslo de 1993-1994), cuja solução da coexistência de dois Estados, com a criação de um Estado palestiniano independente, contribuiu para enterrar, Netanyahu defende uma visão de Israel como "Estado judeu", com fronteiras estendendo-se até à Jordânia -- daí as suas declarações a favor da anexação de partes da Cisjordânia ocupada (desde 1967) e de medidas que promovam a propagação dos colonatos.
Na última década, durante a qual esteve no poder, os colonatos na Cisjordânia ultrapassaram os 475.000 habitantes -- um aumento de 50% -, residindo lado a lado de 2,9 milhões de palestinianos, uma presença cada vez maior que ameaça a criação de um Estado palestiniano viável, segundo a ONU.
Os seus apoiantes veem também nele a encarnação do novo "Rei de Israel" pela sua feroz defesa do país em relação ao Irão e ao respetivo programa nuclear, encarado como o novo "Amalek", o inimigo mortal bíblico dos hebreus.
Apesar de criticar duramente a liderança palestiniana, concluiu em 2020 acordos de normalização de relações com países árabes (Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos), os designados Acordos de Abraão, patrocinados por Washington.
Um orador nato, é também diplomata de carreira, tendo estado colocado nos Estados Unidos, país onde estudou, e depois sido embaixador de Israel na ONU nos anos 1980.
Em 1996, aos 46 anos, venceu o veterano Shimon Peres e tornou-se o mais jovem primeiro-ministro da história do país. Ficaria três anos no poder.
Após um intervalo em que se dedicou aos negócios, assumiu a liderança do Likud e voltou à linha da frente política em 2002, primeiro como ministro dos Negócios Estrangeiros e, depois, das Finanças.
O seu segundo período como chefe de Governo iniciou-se em 2009 e, desde então, conseguiu ser reeleito para o cargo em todas as eleições até que, em junho de 2021, a coligação que formou o "Governo da Mudança" o destituiu do cargo.
"Como soldado, combati para defender Israel nos campos de batalha. Como diplomata, repeli ataques à sua legitimidade em fóruns internacionais. Como ministro das Finanças e primeiro-ministro, procurei reforçar o seu poder económico e político entre as nações", escreveu Netanyahu na sua autobiografia, publicada este mês em Israel, concluindo que ajudou "a garantir o futuro do (seu) velho povo".
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