Mais de 130 milhões de pessoas vivem na pobreza na Nigéria
As autoridades nigerianas indicaram que seis em cada 10 cidadãos vivem na pobreza, o equivalente a mais de 130 milhões de pessoas, no país mais populoso do continente e que atravessa uma profunda crise humanitária e de segurança.
© Lusa
Mundo Nigéria
Um relatório do Instituto Nacional de Estatística (NBS) revela que 133 milhões de pessoas, 63% da população, são "multidimensionalmente pobres".
O estudo, com a participação de várias organizações, incluindo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), revela que mais de dois terços das crianças - 67,5% - também são "multidimensionalmente pobres" e sublinha que 51% de todos os pobres da Nigéria são crianças.
O documento refere que o Índice Multidimensional de Pobreza é de 0,257, o que "indica que os pobres na Nigéria experimentam um quarto de todas as possíveis privações", ao mesmo tempo que detalha que a parte norte do país é a mais afetada por esta crise.
Assim, especifica que 65% do total, ou seja 86 milhões de pessoas, vivem no norte, enquanto os restantes 35%, 47 milhões, vivem no sul. "Os níveis de pobreza entre estados variam significativamente, com uma incidência de pobreza multidimensional que varia entre 27% em Ondo e 91% em Sokoto", apontou.
O NBS notou que "mais de metade da população da Nigéria é pobre e cozinha com estrume, madeira ou carvão, em vez de energia mais limpa". "Há grandes privações aparentes a nível nacional em higiene, saneamento, segurança alimentar e habitação", lamentou.
"Globalmente, a incidência de pobreza económica é inferior à incidência de pobreza multidimensional na maioria dos estados", disse, antes de notar que "40,1% da população é pobre, de acordo com o limiar nacional de pobreza 2018/2019".
No mesmo estudo, conclui-se que "a pobreza multidimensional é maior nas zonas rurais, onde 72% da população é pobre, contra 42% nas zonas urbanas".
O relatório assinalou ainda que "as maiores privações encontram-se no indicador de participação infantil, segundo o qual mais de metade das crianças pobres carece de estímulos intelectuais cruciais para o desenvolvimento da primeira infância".
"A pobreza infantil é predominante nas zonas rurais, com quase 90% das crianças nestas zonas a sofrerem de pobreza", referiu o relatório do NBS, que detalhou que estes números também são mais elevados no nordeste e noroeste do país, sendo mais baixos no sudeste e sudoeste.
Nestes casos, os números de noroeste e nordeste mostram que 90% das crianças são pobres, enquanto no sudeste e sudoeste caem para 74% e 65,1%, respetivamente. A incidência da pobreza infantil multidimensional é superior a 50% em todos os estados e ultrapassa os 95% em Bayelsa, Sokoto, Gombe e Kebbi.
A Nigéria está mergulhada numa grave crise humanitária alimentada pela insegurança, especialmente no nordeste e noutras áreas do norte do país, onde operam grupos de extremistas islâmicos como o Boko Haram e o Estado Islâmico na África Ocidental (Iswap, no acrónimo em inglês), bem como grupos criminosos e gangues armados.
Há anos que estes grupos se aproveitam das queixas da população do norte sobre a discriminação por parte do Governo central para aumentar as suas fileiras e manter um discurso de deslegitimação das autoridades, que responderam com inúmeras campanhas de segurança e prometem melhorar a situação humanitária nestas áreas.
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