Em mais uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para debater a situação na Ucrânia, e convocada de urgência, a subsecretária-geral para Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz da ONU, Rosemary DiCarlo, deu detalhes sobre a nova onda de ataques russos com recurso a mísseis e drones que, durante a noite passada, aterrorizou o povo de Kyiv, Odessa, Lviv, Mykolaiv, Kharkiv e Zaporíjia (Zaporizhzhya), e que deixaram pelo menos quatro mortos e 30 feridos.
"Enquanto os ucranianos procuravam desesperadamente abrigo dos bombardeamentos, eles também tiveram que lidar com temperaturas congelantes. De facto, esses últimos ataques renovam o medo de que este inverno seja catastrófico para milhões de ucranianos, que enfrentam a perspetiva de meses de frio sem aquecimento, eletricidade, água ou outros serviços básicos", disse DiCarlo.
"Mesmo antes dos últimos ataques, as autoridades ucranianas informaram que praticamente não havia grandes centrais termoelétricas ou hidroelétricas intactas na Ucrânia. O bombardeamento de hoje provavelmente tornará a situação ainda pior", avaliou a representante da ONU.
DiCarlo deixou claro que os ataques contra civis e infraestruturas civis são proibidos pelo direito humanitário internacional e exigiu à Russia que "cesse imediatamente essas ações".
"Tem que haver responsabilidade por violação das leis de guerra", insistiu.
A seguir a Rosemary DiCarlo, foi a vez do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, falar - por videochamada - perante o corpo diplomático, tendo pedido que a "justiça dentro das estruturas da ONU" seja restaurada, criticando o facto de a Rússia, como responsável "por todo este terror", continue a ter poder de veto dentro do Conselho de Segurança, onde tem bloqueado todas as tentativas de ação contra a sua agressão.
"Não podemos ser reféns de um terrorista internacional", disse, referindo-se a Moscovo.
Zelensky denunciou ainda à ONU "crimes contra a humanidade" após os novos ataques russos à infraestrutura na Ucrânia.
"Com temperaturas abaixo de zero, vários milhões de pessoas sem abastecimento de energia, sem aquecimento e sem água, isso é obviamente um crime contra a humanidade", apontou Zelensky.
O chefe de Estado Ucraniano aproveitou ainda a reunião para pedir aos seus aliados que lhe forneçam mais defesas antiaéreas e antimísseis em resposta a estes últimos ataques perpetrados pela Rússia, que acusou de tentar destruir a infraestrutura energética do país para fazer milhões de pessoas sofrerem durante o inverno.
Acusações semelhantes foram feitas por aliados de Kyiv, como pela embaixadora norte-americana junto à ONU, Linda Thomas-Greenfield, que acusou o Presidente russo, Vladimir Putin, de estar "determinado a reduzir a escombros as instalações de energia da Ucrânia".
"O motivo de Putin não poderia ser mais claro e mais frio. Ele está claramente a usar o inverno como arma para infligir um imenso sofrimento ao povo ucraniano. Ele decidiu que, se não puder tomar a Ucrânia à força, tentará congelar o país até a submissão", avaliou a diplomata.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.595 civis mortos e 10.189 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
[Notícia atualizada às 23h12]
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