Este tema foi o mais discutido na 19.ª Conferência das Partes (COP19) da CITES, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens, que reúne 183 países e a União Europeia (UE) e que decorre no Panamá.
Este debate deveria ter sido decidido na quinta-feira em plenário, mas as votações, em particular sobre a proteção dos hipopótamos em África, demoraram mais do que o previsto, tendo a questão dos tubarões sido adiada para o plenário de hoje.
Sobre os hipopótamos, a UE opôs-se a uma proposta apoiada pelos estados africanos liderados pelo Togo.
Os africanos pretendiam impor "uma cota zero" de comercialização para garantir uma melhor proteção da espécie, perante a caça furtiva e o tráfico de marfim de hipopótamo. Esta moção foi rejeitada.
Em comunicado divulgado na quinta-feira, a Fundação Brigitte Bardot denunciou "uma promoção para venda da vida selvagem" e "uma atitude obstrutiva e condescendente [da UE], ao bloquear a proteção solicitada por muitos países para a proteção das suas espécies endémicas", como o hipopótamo.
A cimeira, que começou em 14 de novembro e termina hoje, pode incluir tubarões requiem (Carcharhinidae) e tubarões-martelo (Sphynidae) no Anexo II da Convenção, que limita estritamente o comércio de certas espécies.
Esta iniciativa conta com o apoio da UE e de cerca de quinze países, entre estes o Panamá, anfitrião da cimeira.
Estas são espécies que ainda não estão ameaçadas de extinção, mas que podem tornar-se, caso o seu comércio não seja estritamente controlado. O Anexo I proíbe completamente o comércio de certas espécies.
Caso o plenário de hoje aprove a iniciativa, esta "será uma decisão histórica porque pela primeira vez a CITES se posicionará sobre um número muito grande de espécies de tubarões que representam aproximadamente 90% do mercado", apontou à agência France-Presse (AFP) a representante do Panamá, Shirley Binder.
O mercado de barbatanas de tubarão ultrapassa os 500 milhões de dólares por ano (cerca de 483 milhões de euros). Estas podem ser vendidas por 1.000 dólares o quilo (cerca de 960 euros) no leste da Ásia para fazer as famosas sopas.
Antes de ser marcada a votação, decorreu um intenso debate de três horas em 17 de novembro, com o Japão e o Peru a proporem a exclusão de certas espécies das medidas de proteção, pedido que foi rejeitado por voto secreto.
O plenário também deve votar a ratificação de uma proposta sobre a proteção de uma espécie de raia (Rhinobatidae).
No total, os participantes da cimeira analisaram 52 propostas para alterar os níveis de proteção de certas espécies.
A CITES, em vigor desde 1975, estabelece as regras para o comércio internacional de mais de 36.000 espécies selvagens, desde a emissão de licenças -- são autorizadas mais de um milhão de transações por ano - até à proibição total.
Organizada a cada dois ou três anos, a cimeira ocorreu este ano à sombra e sob a influência de outras duas conferências da ONU, também cruciais para o futuro dos seres vivos do planeta: a COP27 sobre o clima, que terminou no domingo no Egito e a COP15 sobre proteção da biodiversidade, que decorre em dezembro em Montreal.
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