"Governo ditatorial"? Oposição em São Tomé deixa alerta

O Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social-Democrata (MLSTP/PSD, na oposição) alertou este sábado, na sequência do ataque ao quartel, para a "tendência de instalação de um governo ditatorial no arquipélago".

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Lusa
26/11/2022 22:08 ‧ 26/11/2022 por Lusa

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São Tomé

"Perante as evidências dos atos de 25 de novembro e as ações subsequentes, o MLSTP/PSD alerta a população e a comunidade internacional sobre a tendência para a instalação de um governo ditatorial com objetivo de amordaçar a democracia e intimidar os opositores através da instalação do terror, medo e perseguição", disse o deputado e membro da comissão política do MLSTP-PSD, Raul Cardoso.

Numa declaração lida este sábado à tarde aos jornalistas, no final da reunião da direção, o porta-voz da comissão política reiterou que o MLSTP/PSD "condena todos os atos de violência contra os cidadãos e instituições do Estado" e acrescenta que condena "veementemente a forma bárbara como cidadãos visivelmente amarrados e neutralizados foram violentamente torturados e executados no recinto do quartel general".

Na declaração, o partido diz "lamentar o silêncio comprometedor do Presidente da República" e defende o total esclarecimento do ataque ao quartel, que surge poucas semanas depois de Patrice Trovoada ter vencido as eleições com maioria absoluta no Parlamento e tendo também um chefe de Estado apoiado pelo seu partido.

"Exigimos o total e cabal esclarecimento de todos os acontecimentos da madrugada do dia 25 de Novembro, incluindo as mortes dos cidadãos, a realização de autópsias por especialistas forenses e o apuramento de todas as responsabilidades inerentes aos atos através de investigações conduzidas de forma isenta pelas instituições nacionais competentes, acompanhadas por peritos internacionais independentes e sob observação atenta da comunidade internacional", apontou o representante do MLSTP/PSD.

Defendendo também explicações do primeiro-ministro pelas declarações em que assegurou não ter havido vítimas mortais, ter implicado civis no ataque e ter afirmado que existia um 'complot', o partido quer ainda que seja esclarecida "a existência de uma suposta força militar paralela privada denominada PK, formada para sua guarda pessoal".

Na missiva, o MLSTP/PSD exige um debate de urgência e afirma ter contactado "as Nações Unidas, o corpo diplomático residente e as forças políticas nacionais" para se encontrar "uma solução viável para esta situação".

O assalto ao quartel, que se prolongou por quase seis horas, com intensas trocas de tiros e explosões, foi neutralizado pelas 06:00 locais (mesma hora em Lisboa) desta sexta-feira, com a detenção dos quatro assaltantes e de alguns militares suspeitos de envolvimento.

Dos quatro atacantes, três morreram, bem como o suspeito Arlécio Costa, que tinha sido levado pelos militares para o quartel às primeiras horas da manhã.

Ao longo do dia de sexta-feira, fotografias dos detidos com marcas de agressões e sangue e com as mãos amarradas atrás das costas, bem como já na morgue, foram amplamente divulgadas nas redes sociais.

O Governo orientou ainda os serviços hospitalares para que "os corpos sejam devidamente conservados nas morgues" até à chegada da equipa portuguesa que apoiará a investigação, composta por elementos da Polícia Judiciária e um médico legista.

O Ministério Público de São Tomé e Príncipe abriu dois processos-crime para investigar o ataque e o alegado homicídio e tortura de quatro suspeitos, disse à Lusa fonte judicial.

Ao início da manhã de sexta-feira, os militares detiveram, nas suas respetivas casas, o ex-presidente da Assembleia Nacional Delfim Neves, atualmente deputado pelo movimento Basta, e Arlécio Costa, antigo oficial do 'batalhão Búfalo' que foi condenado em 2009 por uma tentativa de golpe de Estado, alegadamente identificados pelos atacantes como mandantes.

Os assaltantes terão alegadamente atuado com a cumplicidade de militares no interior do quartel, tendo pelo menos três cabos sido detidos. No exterior, cerca de 12 homens aguardavam, em carrinhas, e alguns fugiram durante as trocas de tiros com os militares.

Os atacantes e os militares envolveram-se em confrontos, tendo o oficial de dia sido feito refém e ficado ferido com gravidade após agressões.

Ao final da tarde, dezenas de detidos foram transferidos das instalações militares para as sedes da Polícia Judiciária e Polícia Nacional, um ato acompanhado pelo escritório das Nações Unidas no país, em articulação com o Presidente da República, Carlos Vila Nova, e com o procurador-geral da República, Kelve Nobre de Carvalho.

Leia Também: Protesto contra a libertação do assassino de Chris Hani na África do Sul

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