"Vamos assumir o controlo da rede rodoviária em todo o país para assegurar o livre trânsito de todos os peruanos e para que possam exercer adequadamente os direitos garantidos pela Constituição", anunciou, na terça-feira, o ministro da Defesa, Alberto Otarola, numa declaração à imprensa.
Além disso, "foi ordenada a proteção imediata pelas forças armadas dos pontos estratégicos de bens nacionais", como aeroportos e centrais hidroelétricas, acrescentou.
Os militares também vão proteger "todas as infraestruturas cujo valor estratégico sirva para garantir a vida e a subsistência de todos os peruanos", reforçou.
Otarola classificou os protestos como um "motim provocado por profissionais que têm trabalhado" para o conseguir "há muito tempo", salientando que têm "identificadas as pessoas que trabalham contra o Estado de direito no país".
De acordo com o último relatório policial, existem bloqueios de estradas em 14 das 24 regiões do Peru, sendo as mais afetadas Apurimac, onde o Governo declarou estado de emergência, assim como Arequipa e Ica, regiões que segundo Otarola estarão abrangidas pelas medidas anunciadas.
Até ao momento, sete manifestantes morreram nos protestos e mais de uma centena de polícias foram feridos, 15 dos quais num ataque com explosivos.
A adoção das medidas pelo Governo insere-se no contexto da eclosão de protestos que o Peru vive desde a semana passada, quando o então Presidente Pedro Castillo lançou uma tentativa de golpe de Estado ao determinar a destituição do Congresso, a constituição de um governo de emergência e a reorganização do sistema de justiça.
Esta crise política, que culminou com a destituição, a detenção de Castillo e a subida ao poder da vice-Presidente, Dina Boluarte, resultou em manifestações em várias regiões do país, sobretudo na zona sul.
A elite política e a oligarquia de Lima sempre desdenharam Castillo, um professor rural de origem indígena e dirigente sindical sem ligações às elites, sobretudo apoiado pelas regiões andinas desde as eleições presidenciais que venceu por curta margem na segunda volta contra a candidata de extrema-direita Keiko Fujimori, a filha do anterior presidente Alberto Fujimori, condenado em 2009 a 25 anos de prisão, que não cumpriu na totalidade.
Dina Boluarte anunciou inicialmente eleições gerais para 2026, mas de seguida indicou ter "compreendido a vontade dos cidadãos" e disse ter "decidido tomar a iniciativa de um acordo (...) para avançar com eleições gerais em abril de 2024".
No entanto, os manifestantes continuam a exigir a dissolução do Congresso, eleições imediatas e uma nova Constituição.
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