Numa altura que a China está a enfrentar uma das piores vagas de Covid-19 de toda a pandemia, as autoridades internacionais estão preocupadas com o impacto que poderão ter as comemorações do Ano Novo Lunar, que se celebra no país no final de janeiro.
Durante o mês de janeiro, centenas de milhões de chineses deslocam-se milhares de quilómetros para se juntarem às suas famílias para comemorar o novo ano chinês.
Esta tendência deverá assistir a um crescimento este ano, já que, pela primeira vez desde o início da pandemia, a população poderá viajar sem grandes restrições às viagens entre regiões.
A situação é particularmente preocupante durante o Ano Novo Lunar. Citada pelo The Guardian, a empresa de análise de saúde pública britânica Airfinity alerta que muitos cidadãos de zonas mais afetadas deverão levar o vírus da Covid-19 para zonas mais isoladas e rurais do país, onde há menos hospitais e menos profissionais de saúde, impossibilitando assim uma resposta adequada.
Assim, prevê-se um crescimento da pandemia ainda maior, numa altura em que os líderes ocidentais mostram-se cada vez mais preocupados com o fim de todas as restrições às viagens na China.
Também ao The Guardian, o professor de gestão pública, Jeremy Wallace, da Universidade de Cornell, disse estar "surpreendido que a mensagem oficial seja de negação quanto à profundidade desta onda e, tanto quanto tenho visto, não existe comunicação sobre achatar a curva para reduzir a pressão sobre os sistemas de saúde sobrecarregados".
"Como tal, espero por um número de mortes estonteante, tal como foi previsto por modelos que analisaram a experiência em Taiwan, Coreia do Sul e Hong Kong", acrescentou o especialista.
A Comissão Nacional de Saúde chinesa registou a 19 de dezembro as primeiras mortes por Covid-19 em várias semanas, mas desde então, o regime deixou de divulgar regularmente os dados sobre o número de casos diários e de óbitos pela doença. E os que divulga parecem muitas vezes fabricados: na sexta-feira, a comissão de saúde nacional registou 5.500 novos casos em todo o país e apenas uma morte. Mas a Airfinity estima que cerca de 9.000 pessoas estejam a morrer por dia por Covid-19, com o valor a poder crescer para 25 mil mortes por dia.
Apesar de, inicialmente, as medidas de restrição terem prevenido um número muito grande casos comparativamente com o resto do mundo, a verdade é que o governo desincentivou à vacinação e manteve uma polícia de implementação de confinamentos ao mais pequeno surto. Em 2022, enquanto a grande maioria do globo já tinha levantado as medidas graças a taxas de vacinação altas, a China continuou a forçar dezenas de milhões de pessoas a fecharem-se em casa perante o surgimento de qualquer caso.
Agora, depois de os maiores protestos contra o regime dos últimos anos, o regime acabou por ceder e decidiu levantar as imposições, mas fê-lo sem preparar os serviços de saúde e sem incentivar à vacinação contra a Covid-19.
Atualmente, muitos hospitais chineses estão completamente sobrelotados e, apesar da intensa censura nas redes sociais levada a cabo pelo regime de Pequim, não faltam relatos de morgues cheias e filas às portas para as pessoas recolherem os seus familiares.
Entretanto, vários países já impuseram restrições aos viajantes provenientes da China, e o Governo português avançou esta sexta-feira que está a avaliar fazer o mesmo.
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