"Foi com profunda consternação que recebi as informações vindas do Brasil sobre este assalto às instituições democráticas brasileiras, num verdadeiro ato de vandalismo e barbaridade, depois da grande cerimónia de 01 de janeiro que decorreu totalmente pacificamente", disse José Ramos-Horta à Lusa.
"O que aconteceu e está a acontecer no Brasil, é 'copy paste' [uma cópia] do que foi instigado em Washington pelo então presidente [norte--americano] Donald Trump, com o assalto de 06 de janeiro de 2021 ao Capitólio. O ex-Presidente [brasileiro Jair] Bolsonaro não pode esquivar as responsabilidades criminais pelo que aconteceu", afirmou.
Ramos-Horta disse que as ações de domingo "não vão fragilizar o Presidente Lula" e que sairá com o seu Governo "reforçado", contando com a solidariedade de "todos os países democráticos do mundo" e até de "países que não serão necessariamente democráticos, mas com quem o Presidente Lula sempre foi pragmático e desenvolveu boas relações".
"Todos estes países se solidarizam com o presidente Lula e o Brasil. Nunca golpistas estão tão isolados como neste caso", sublinhou.
Cerca de 200 pessoas foram detidas em flagrante na invasão das sedes dos poderes em Brasília, segundo dados preliminares avançados pelo ministro da Segurança Pública do Brasil, Flávio Dino.
As detenções ocorreram depois de centenas de apoiantes de Bolsonaro invadirem a sede do Congresso Nacional, em Brasília, numa manifestação em que pedem uma intervenção militar para derrubar Lula da Silva, uma semana após a sua tomada de posse.
Os manifestantes ultrapassaram as barreiras policiais e subiram a rampa que dá acesso à cobertura das sedes da Câmara dos Deputados e do Senado.
A polícia brasileira usou gás lacrimogéneo para tentar, sem sucesso, travar os manifestantes, que estavam concentrados no exterior do edifício.
Jair Bolsonaro demarcou-se hoje das invasões de edifícios públicos em Brasília feitas no domingo pelos seus apoiantes e repudiou as acusações de ter estimulado os ataques.
"Manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia. Contudo, depredações e invasões de prédios públicos como ocorridos no dia de hoje [domingo], assim como os praticados pela esquerda em 2013 e 2017, fogem à regra", escreveu Bolsonaro, na sua conta oficial na rede social Twitter.
Em três 'posts' sucessivos, Bolsonaro comentou as ocupações feitas na capital brasileira e rejeitou as acusações feitas pelo seu sucessor, Lula da Silva, que o responsabilizou por ter incitado os ataques de domingo aos edifícios sede dos poderes legislativo, judicial e executivo.
"Repudio as acusações, sem provas, a mim atribuídas por parte do atual chefe do executivo do Brasil", escreveu Bolsonaro.
"Ao longo do meu mandato, sempre estive dentro das quatro linhas da Constituição respeitando e defendendo as leis, a democracia, a transparência e a nossa sagrada liberdade", acrescentou Bolsonaro, que está nos Estados Unidos da América desde o final do ano passado, não tendo comparecido na passagem de testemunho do poder a Lula da Silva.
Numa declaração pouco depois dos ataques em que decretou a intervenção federal em Brasília, o Presidente do Brasil, Lula da Silva, acusou Bolsonaro de ser um genocida, por provocar e estimular invasões violentas em edifícios públicos neste domingo em Brasília, capital do país.
"Este genocida não só provocou isso, não só estimulou isso, como, quem sabe, está estimulando ainda pelas redes sociais também", afirmou Lula da Silva referindo-se a Bolsonaro que está em Orlando, nos Estados Unidos.
"Na verdade, ele fugiu para não me colocar a faixa. É muito triste. Depois da festa democrática do dia primeiro [de janeiro], a festa mais importante da posse de um Presidente da República", acrescentou o chefe de Estado brasileiro, referindo-se à ausência de Bolsonaro na cerimónia de posse que marcou o início da sua gestão.
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