"O que queremos é que possam ver Cabo Verde como um centro de talento"

O secretário de Estado para a Economia Digital de Cabo Verde, Pedro Lopes, é o convidado desta segunda-feira do Vozes ao Minuto. Defende que "o mundo está a mudar" e "não é preciso ser nenhum engenheiro informático para investir no digital, nem é preciso ser um 'expert' em tecnologia para desenvolver ideias que utilizam o digital como um canal de comunicação ou um canal de vendas". É "o momento de transformação", sublinha.

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© Pedro Lopes / Facebook

Inês Frade Freire
23/01/2023 09:45 ‧ 23/01/2023 por Inês Frade Freire

Mundo

Cabo Verde

O secretário de Estado para a Economia Digital de Cabo Verde, Pedro Lopes, tem sido pioneiro no país, ainda antes de assumir o cargo, em várias iniciativas para a diversificação da economia através da aposta nas novas tecnologias.

Em 2017, ganhou o prémio nacional 'Somos Cabo Verde', na categoria de inovação e empreendedorismo, e foi selecionado pelo governo americano para participar no programa 'The Young African Leaders Initiative'. 

Um ano depois integrou a lista dos afrodescendentes mais influentes do mundo com menos de 40 anos e foi escolhido pelo ex-presidente americano Barack Obama para integrar a primeira iniciativa de liderança em África.

O Notícias ao Minuto falou com o governante sobre a 'Bolsa Cabo Verde Digital' (apoia financeiramente as 'startups' e faz também a incubação e interferência), o papel da pandemia de Covid-19 para a aceleração do uso de canais digitais e os desafios que o país enfrenta na aposta do digital.

O secretário de Estado deu ainda a conhecer os projetos para o futuro que visam atrair empresas nacionais e internacionais para Cabo Verde.

O que queremos é que as pessoas dos Estados Unidos da América, da Europa, do Continente Africano, do Brasil e de outras paragens possam ver Cabo Verde como um centro de talento, como um centro para viver e trabalhar de forma remota

Como surgiu a ideia de transformar Cabo Verde numa plataforma digital?

Esta ideia de transformar Cabo Verde numa plataforma digital tem a ver com a vontade de diversificarmos a nossa economia, uma vez que Cabo Verde depende muito, e de forma excessiva, do turismo - e que vai continuar a ser super importante para a nossa economia - mas, no entanto, há uma vontade de diversificar aquilo que é a economia do país e a aposta nas novas tecnologias.

É uma grande aposta do governo porque as pessoas podem trabalhar de forma remota, a partir de Cabo Verde, pela estabilidade que o país tem, que representa, em termos de avanço, em diversas áreas. Acreditámos que era importante dar uma oportunidade não só para os cabo-verdianos, mas também em termos de avanço para toda a sub-região a partir de Cabo Verde em diversas áreas

O que queremos é que as pessoas dos Estados Unidos da América, da Europa, do Continente Africano, do Brasil e de outras paragens possam ver Cabo Verde como um centro de talento, como um centro para viver e trabalhar de forma remota, mas também como uma porta de entrada para o continente africano que, com toda a certeza, será um continente do futuro ao nível da tecnologia, com uma população muito jovem e muitos desafios para resolver.

Então, comparando com os países da nossa sub-região, pensamos: “Bem, com a nossa estabilidade, com uma democracia assinalável, com um 'index' de desenvolvimento sempre muito assinalável também, temos todas as condições para nos tornarmos num 'hub' para a nossa sub-região". E é isso que estamos a fazer com políticas públicas, mas também com investimento em infraestruturas.

Investimos agora 50 milhões no nosso parque tecnológico, mais uma vez, não para serviços ao país, mas para servir a sua região, ou seja, toda a costa ocidental africana e todo o continente. É um grande investimento do Estado de Cabo Verde e acredito que, no início deste semestre, já estará na fase de conclusão. Ou seja, queremos, no primeiro semestre de 2023, abrir o nosso parque tecnológico em Cabo Verde, que terá um centro de treinos, um centro de incubação e um centro de conferências. Vai ser um investimento importante do Estado de Cabo Verde.

Depois, reforçámos a nossa conetividade com o 'State of Hearts Submarine' que é um cabo submarino (um investimento de 25 milhões de euros) do Estado de Cabo Verde com o apoio do Banco Europeu do Investimento.

Nós temos apostado forte nas Infraestruturas, um investimento que anda à volta dos 100 milhões de euros nos últimos anos para um país que tem um orçamento do Estado que não chega a um bilião de euros, vê-se o comprometimento do que é o investimento neste setor.

E, depois, também tem vivido um investimento forte no capital humano para treinar as pessoas para este mundo de tecnologia e de 'startups'. Neste mundo fala-se muito em talento, capital e mercado. Eu falo sempre em talento primeiro porque acho que o talento vem em primeiro lugar.

Temos cada vez mais meninas e mulheres a querer fazer uso do digital, como uma forma de acrescentar valor ao seu negócio

Como surgiu a ideia de lançarem a Bolsa Cabo Verde Digital? E quantos jovens já foram apoiados até agora no âmbito desta iniciativa?

No meu pensamento, as pessoas que andam à procura de capital sem talento... ele não aparece. E visto que mercado nós temos, apesar de sermos um país pequenino com 500 mil pessoas, com o aumento do crescente interesse pelas empresas tecnológicas no continente africano (exatamente porque há soluções para criar), achámos que era necessário darmos o 'salto da rã', o 'hub' no continente africano tem de ser através de tecnologia e inovação porque as pessoas não querem esperar muitos mais anos e não têm de esperar - este é o momento de transformação, uma vez que há uma população muito jovem.

Com esta aposta tanto nas infraestruturas como no capital humano, criámos diversos programas. Na bolsa Cabo Verde Digital, que a cada seis meses, permite o apoio de 25 'startups' e 50 jovens, o objetivo é todos os anos o Governo criar ou apoiar 50 'startups' com uma parte financeira: nós oferecemos três salários mínimos por pessoa e são duas pessoas por 'startup'. Mas não é só o dinheiro que é importante. Nós estabelecemos parcerias com mentores internacionais da 'International Business Machines Corporation' e outros 'experts' que permitem aos cabo-verdianos, a partir da Internet ter o apoio de mentores internacionais.

Assim, com mentores nacionais, internacionais e todo o suporte técnico, pretendemos alcançar também ter o apoio da banca.

Este é um programa verdadeiramente fantástico que já vai na sua 5.ª edição e que já apoiou tantos jovens cabo-verdianos… e não vamos parar. Estamos já com jovens de todas as ilhas - em Cabo Verde são 10 ilhas, sendo nove habitadas. 

Além disso, começou a ter cada vez mais mulheres empreendedoras a entender que o digital é uma ferramenta importante de escala social e isto parece-nos importante. Temos cada vez mais meninas e mulheres a querer fazer uso do digital, como uma forma de acrescentar valor ao seu negócio.

Não é preciso ser nenhum engenheiro informático para investir no digital, não é preciso ser um 'expert' em tecnologia para desenvolver ideias que utilizem o digital como um canal de comunicação ou um canal de vendas, ou então para otimizar o seu negócio e tornar- o mais produtivo. É nesta caminhada que nós estamos.

Não podemos querer que o mundo mude e a educação não mude

Que iniciativas consideram que mais lançaram o Governo de Cabo Verde no digital?

Além da Bolsa, criámos um programa que se chama 'Kode Verde' - 'kode' é o "último filho" em crioulo, mas também é uma brincadeira com 'coding' [criação de código] de programação. Esse programa foi criado em parceria com o setor privado, tanto empresas internacionais, como a Price Waterhouse Coopers (PwC), mas também como a 'Vision Wear' - que é uma importante empresa de cibersegurança, mas também com empresas nacionais cabo-verdianas - a 'Chuba' e 'Sintaxi' - que são duas 'startups' cabo-verdianas. 

Mas como é que isto funciona? Os jovens precisam de formação e quem sabe dar formação adequada são as empresas, então o Estado apoia e financia esta formação e, depois, parte dos jovens quando terminam esta formação são absorvidos diretamente nestas empresas com quem foram parcerias. Este é um programa que está a crescer e a formar mais de 100 pessoas na área da programação e queremos que este número seja cada vez maior. 

Este programa é acompanhado por outro muito bonito que é o 'WebLab'. Imagine, todas as escolas secundárias do país estão equipadas com contentores com 12 computadores e onde os jovens aprendem robótica e programação. Já foram mais de 20 mil jovens ensinados para um país que só tem 500 mil pessoas. É um número realmente importante.

Queremos tornar Cabo Verde num talento, queremos que os jovens cabo-verdianos possam estar preparados como atores deste mundo e mudança e não só como espectadores.

É realmente importante percebermos que a forma como o mundo está a mudar está a impactar a educação das crianças e jovens. Não podemos querer que o mundo mude e a educação não mude.

Considera que a pandemia de Covid-19 foi uma oportunidade na criação de oportunidades para a economia digital em Cabo Verde? Os empreendedores cabo-verdianos conseguem aproveitar?

Foi verdadeiramente impactante e as pessoas solicitaram a usar o digital de uma forma mais constante. 

Começámos a usar um certificado digital - o 'Nhabetse' - que significa "a minha vez" em cabo-verdiano - e passamos a ser reconhecidos pela União Europeia, o que mostra e atesta a qualidade deste certificado digital. Foi importante porque todos os cabo-verdianos aspiram a aderir ao 'Nhabetse' e a fazer uso deste certificado digital para entrar em recintos e espetáculos exatamente como aconteceu em Portugal. É um certificado 'made in' Cabo Verde e que mostrou exatamente que as pessoas, se tiverem necessidade, vão fazer uso do digital.

Mas também começaram a surgir os serviços de entrega ao domicílio, a surgir oportunidades para 'startups', ou seja, acho que houve aqui uma aceleração da implementação do digital no país por necessidade.

De um momento para o outro, tudo se fechou, deixou de haver acesso às lojas, então teve de haver ideias para continuar a vender produtos e serviços e utilizar esses canais digitais para o fazer.

A partir daí, as pessoas começaram a entender que o digital não é apenas uma moda e que os jovens que estão a desenvolver ideias nesta área não são apenas jovens a brincar à tecnologia e aos computadores - isto vai realmente impactar a economia.

É preciso dar oportunidade aos jovens, que são os empreendedores do futuro, que terão muito sucesso ao usarem o digital, que é realmente muito importante.

Acho que o mundo vai ser dividido por quem tem o acesso à Internet e sabe fazer uso, e quem não o tem

Ao mesmo tempo que há oportunidades, acentua-se a infoexclusão e a iliteracia digital. Como é dada igual oportunidade em todo o país para que ninguém fique para trás?

Em Cabo Verde, nós temos uma taxa assinalável de acesso à Internet. O que há aqui são duas questões, que são: 1.º - se as pessoas têm acesso; 2.º - o uso que fazem desse acesso. No país, nós temos 85% de acesso por cada 100 cidadãos - é o dobro da média africana, que anda à volta dos 40% - e é 25% acima da média mundial - que anda à volta dos 60%. São números muito importantes, mas que vamos, com toda a certeza, ultrapassar.

Hoje em dia, sempre que chegamos aos sítios, a primeira coisa que perguntamos é se têm Internet e, atualmente, é algo que começa quase a ser como um direito humano. Enquanto ferramenta de conhecimento é importante não deixar ninguém para trás.

Em Cabo Verde o preço da Internet tem descido nos últimos anos, apesar de ainda deixar algumas pessoas de fora que não conseguem pagar. No entanto, temos mais de 100 praças digitais de acesso livre à Internet, exatamente para dar resposta a quem não pode pagar uma assinatura da Internet. Além disso, vamos começar este ano a estabelecer a Internet como um bem essencial. As pessoas que não podem pagar pela Internet, e querem empreender ou aprender (área da formação ou área do empreendedorismo), vão ter um apoio do Estado para ter acesso à Internet.

Não é justo deixarmos de fora, sem ter acesso a cursos online, pessoas que querem melhorar os seus conhecimentos ou estão a empreender num pequeno negócio e que precisam da Internet como um canal de vendas. Queremos apoiar os cabo-verdianos que usam a Internet como uma ferramenta de escala social.

Acho que o mundo vai ser dividido por quem tem o acesso à Internet e sabe fazer uso, e quem não o tem.

Outro desafio é o da literacia digital - é o maior desafio na área da economia digital. Fazer o bom uso da Internet, dar as ferramentas para que as pessoas possam utilizar a Internet

Quais os desafios que o país ainda enfrenta nesta aposta do digital e num acesso democratizado à Internet?

Há sempre desafios. As pessoas queixam-se muito do preço e eu entendo - e sou sensível a isso - mas o país precisa também de comprar a Internet e quem vende a Internet não é o governo, são as operadoras.

Agora cabe-nos a nós criar políticas públicas para pensar como pode ter acesso quem não o tem. Esse é um desafio que temos de resolver para não deixar ninguém para trás. E se nos queremos estabelecer como um 'hub' digital para toda a costa ocidental africana e todo o continente, precisamos de dar conectividade de qualidade às pessoas e garantir que quem não tem capacidade para pagar, pode ter acesso.

Outro desafio é o da literacia digital - é o maior desafio na área da economia digital. Fazer o bom uso da Internet, dar as ferramentas para que as pessoas possam utilizar a Internet.

Quando falo em literacia digital preocupo-me aqui com duas franjas da população que me parecem importantes: pessoas com uma condição social baixa que precisam de apoio (e os mais jovens, que precisam de proteção) e das pessoas com mais idade. Enquanto o mundo flui todos os dias e dá um passo para a frente, há necessidade de não esquecer de quem é de gerações anteriores. É preciso cuidar, proteger. Temos, cada vez mais, num mundo inteiro, casos de fraudes cometidas através da Internet, utilização de dados indevidos por parte de pessoas que têm objetivos menos claros, então, é importante perceber que a Internet é um bocadinho uma extensão daquilo que é uma arena social, é como estarmos na rua. Vai ser tudo definido através de regras impostas, mas é preciso dar conhecimento, acima de tudo. Mais relevante ainda que regulamentar, é dar a capacidade às pessoas para elas terem ferramentas para perceber como funciona a Internet.

Não é possível falar no digital, sem falar nos aspetos mais nefastos. A nova diretora da Polícia Judiciária (PJ) de Cabo Verde, Ivanilda Mascarenhas Varela, mencionou o cibercrime, durante a tomada de posse, como um aspeto a ter em atenção. É um problema em Cabo Verde? É algo que a sua tutela tem acompanhado?

Sim, em Cabo Verde, recentemente, tivemos um ataque que teve um impacto sobre toda a Administração Pública e os serviços do Estado, e nós estamos atentos, temos tomado precauções, mas ninguém está a salvo. Vemos cada vez mais ataques. É preciso prevenir, sensibilizar as pessoas de como usar a Internet. Aqui, na Administração Pública, fazemos essa sensibilização.

Temos aqui também um objetivo grande que é tornarmo-nos numa referência na área de cibersegurança, porque não há negócios no digital sem uma base de confiança e sem uma plataforma de segurança.

Agora, no início deste ano, vamos fazer um evento em conjunto com a União Europeia só sobre cibersegurança nesta área. Estamos a desenvolver também parceria com os EUA e com a China para garantir que Cabo Verde se torne uma referência na área de cibersegurança e estamos atentos àquilo que é um flagelo mundial, mas temos de dar resposta.

A entrada de Cabo Verde pela primeira vez no top 100 do Ranking Mundial de Ecossistemas de Inovação e no Top 10 no Continente Africano, em 2020, foi um passo em prol do reconhecimento do trabalho que tem vindo a desenvolver como secretário de Estado da Inovação e da Formação Profissional de Cabo Verde?

Eu considero que a entrada de Cabo Verde nestes rankings nacionais é uma responsabilidade conjunta e quando falo em responsabilidade conjunta, falo nas nossas 'startups' com o talento dos nossos jovens, o Estado com a definição de políticas públicas, as organizações não governamentais que tratam estes temas, as universidades. Ou seja, é um conjunto de pessoas e instituições a quem este prémio pertence.

Eu acho que é importante começarmos a entrar nestes 'rankings' e, pela primeira vez, refletem o trabalho que temos feito em prol do setor privado. Quem tem de desenvolver a economia digital são as empresas, nós enquanto Estado de Cabo Verde vamos dar plataformas. Temos ido até palcos internacionais como o WebSumit e outros, não só com a parte política, mas em conjunto enquanto ecossistema.

Estamos a formar um ecossistema grande, forte, que é capaz de dar resposta àquilo que são os nossos objetivos, mas antes de haver um ecossistema é preciso haver comunidade e esta comunidade é composta por estes atores todos que fiz referência. Queremos que Cabo Verde seja um 'hub' não só para os negócios acontecerem aqui, mas a partir daqui para o mundo, através de um clique.

O vice-primeiro-ministro cabo-verdiano, Olavo Correia, disse em novembro que o Governo quer atingir 60% de serviços públicos digitais até 2026 e aumentar essa percentagem para mais de 80% quatro anos depois. É exequível?

Eu acho que é importante definir metas e nós temos de trabalhar para atingir metas, ser ambiciosos. Cabo Verde sempre construiu os seus 'milestones' [marcos] com esta ousadia de um país que quer ser uma referência, então não nos limitamos à nossa pequenez física, temos objetivos que são importantes se queremos ser uma referência.

Estas metas dão ânimo a tudo o que é a máquina pública e as empresas privadas para trabalharmos e atingirmos esses objetivos.

Cabo Verde é 1% terra e 99% mar e nós temos de explorar mais estas potencialidades - estamos a fazê-lo - e queremos ainda fazê-lo de uma forma sustentável

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, visita Cabo Verde este mês, durante a passagem da Ocean Race pela ilha de São Vicente. Que sinal dá esta visita?

É um reconhecimento do que Cabo Verde tem vindo a fazer na área da sustentabilidade. A Ocean Race - é nesse âmbito que o secretário-geral da ONU vem até Cabo Verde - é um evento importantíssimo, mas é um evento que fala de um dos que é um grande objetivo de Cabo Verde, desenvolver a economia marítima.

Cabo Verde é 1% terra e 99% mar e nós temos de explorar mais estas potencialidades - estamos a fazê-lo - e queremos ainda fazê-lo de uma forma sustentável. É importante que Cabo Verde se torne também um espaço onde já somos conhecidos pelos nossos valores democráticos, pela nossa estabilidade, mas ainda queremos ser reconhecidos pela nossa disrupção e pela nossa sustentabilidade.

Eu acho que isto são marcas importantes e que vão projetar o país no futuro com toda a certeza.

Leia Também: António Guterres diz que mundo "tem sido lento" nas reformas

 

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