Olusegun Obasanjo, que é também ex-presidente da Nigéria, avançou, em entrevista ao jornal Financial Times, que as suas estimativas apontam para pelo menos 600 mil mortos no conflito, recordando que, durante a assinatura do acordo de cessar-fogo em Pretória, na África do Sul, em novembro do ano passado, as autoridades etíopes se felicitaram por interromper um conflito que, até então, matava "mil pessoas por dia".
O conflito em Tigray eclodiu em novembro de 2020 depois de um ataque da Frente Popular para a Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês) à principal base do exército, localizada em Mekele.
O ataque realizou-se depois de meses de tensões políticas e administrativas, incluindo a recusa da TPLF em aceitar um adiamento das eleições e a realização de eleições regionais fora de Adis Abeba.
O Governo do primeiro-ministro, Abiy Ahmed, respondeu ao ataque com uma ofensiva contra o grupo.
A TPLF, que foi força dominante da coligação governante da Etiópia desde 1991 - a Frente Democrática Revolucionaria Popular Etíope, de base étnica -, acusa o primeiro-ministro de alimentar tensões desde que chegou ao poder, em abril de 2018, quando se tornou o primeiro oromo (o maior grupo étnico da Etiópia) a tomar posse.
Grupos de especialistas internacionais ouvidos pelo jornal Financial Times consideraram que a estimativa de Obasanjo pode estar "aproximadamente correta".
É o caso do investigador da Universidade de Ghent (Bélgica), Tim Vanden Bempt, que calcula que só o número de mortes de civis oscile "entre 300.000 e 400.000", seja pelas atrocidades da guerra, pela fome ou por falta de acesso a cuidados médicos.
Responsáveis etíopes, que falaram ao jornal sob condição de anonimato, consideraram, no entanto, que estas estimativas são exageradas, apontando que o conflito deverá ter provocado entre 80.000 e 100.000 mortos.
O líder da Comissão Etíope para os Direitos Humanos, Daniel Bekele, pediu cautela em relação a estimativas, considerando que "provavelmente nunca se saberá o número total de mortes" no conflito.
Leia Também: Etiópia. Grupo armado em Oromía atacou prisão e libertou 480 reclusos