"Estes julgamentos não são julgamentos. É um espetáculo, é uma farsa, não tem nada a ver com justiça", denunciou a opositora que se encontra exilada na Lituânia, mas que esteve de visita a Davos, na Suíça, onde concedeu uma entrevista à agência France-Presse (AFP).
Para Sviatlana Tsikhanouskaya, estes processos contra os opositores do regime são "uma vingança pessoal" de Lukashenko e dos seus parceiros.
Perante "uma dúzia de acusações", incluindo alta traição e conspiração para conquistar o poder, a política referiu que contactou o seu advogado indicado pelo tribunal, mas que este nunca respondeu.
"Eu nem sei o que meu alegado advogado fará amanhã naquele tribunal, como é que me vai defender. Não sei quanto tempo vai durar este julgamento, quantos dias, mas tenho certeza que me vão condenar a muitos, muitos anos de prisão", realçou.
A opositora bielorrussa destacou ainda que os exercícios conjuntos da Força Aérea organizados hoje entre a Rússia e a Bielorrússia são 'bluff' por parte de Lukashenko, que permitiu que a Rússia utilizasse o seu território para organizar ataques contra a Ucrânia.
"É um espetáculo para o povo da Bielorrússia, para ameaçá-lo, dizendo: olhem para o Exército russo, então fiquem calmos, não se oponham a nada", salientou.
O principal objetivo, segundo Tsikhanouskaya, é também "desviar a atenção dos soldados ucranianos dos pontos quentes no leste [da Ucrânia] em direção à fronteira da Bielorrússia" no norte.
Lukashenko, no poder desde 1994, renovou o mandato presidencial nas eleições de 09 de agosto de 2020, cujos resultados não foram reconhecidos pela oposição interna, e pelos países ocidentais, após diversas denúncias de fraude eleitoral.
Tsikhanouskaya reclamou a vitória sobre Lukashenko nessas eleições presidenciais e viu-se obrigada a fugir para a vizinha Lituânia, em pleno período de repressão às massivas manifestações de protesto após a divulgação dos resultados oficias.
Sviatlana Tsikhanouskaya destacou hoje que é a primeira pessoa do seu país a participar no Fórum Económico Mundial em Davos desde 1992, dois anos antes de Lukashenko assumir o poder.
"É uma grande honra para nós porque durante mais de 30 anos a Bielorrússia foi como um buraco negro no mapa da Europa: fomos considerados um apêndice da Rússia", referiu.
Após as disputadas eleições presidenciais de 2020, o regime bielorrusso reprimiu os protestos históricos da oposição com prisões em massa, exílios forçados e prisões de ativistas e jornalistas.
De acordo com o centro bielorrusso de direitos humanos Viasna, este país tem atualmente mais de 1.400 presos políticos.
O marido de Sviatlana Tsikhanouskaya, Sergei Tikhanovski, foi detido antes da eleição presidencial de 2020, levando a sua esposa a concorrer ao cargo. O político foi condenado em dezembro de 2021 a 18 anos de prisão.
Também hoje começou o julgamento à porta fechada do jornalista Andrzej Poczobut, uma figura da minoria polaca na Bielorrússia, que enfrenta uma pena de prisão de 12 anos.
No início deste mês, a Bielorrússia começou a julgar Ales Bialiatski, um ativista democrático bielorrusso e co-vencedor do Prémio Nobel da Paz de 2022, fundador do Viasna Center. Bialiatski, que está preso, arrisca com seus colaboradores até 12 anos de prisão.
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